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Polícia investiga ação de milícias que cresceram durante a greve

Ocorreram 172 assassinatos ocorridos em Salvador e Região Metropolitana, desde 31 de dezembro

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12/02/2012 às 8:57 • Atualizada em 27/08/2022 às 18:48 - há XX semanas
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Milícias formadas por policiais, grupos de extermínio - compostos por bandidos e policiais - e traficantes de drogas estão sendo investigados pela Polícia Civil da Bahia como responsáveis pela maior parte dos 172 assassinatos ocorridos em Salvador e Região Metropolitana, até as 20h de ontem, desde 31 de dezembro, quando a PM iniciou movimento grevista em todo estado. Ano passado, em todo mês de fevereiro foram registrados 137 homicídios. A coordenadora das Delegacias de Homicídios da Capital, delegada Francineide Moura, explicou que a Polícia Civil investiga se esses grupos aproveitaram a greve para cometer mais crimes nas regiões da cidade onde atuam. “Há grupos de extermínio em atuação em alguns locais da cidade que já estão sendo alvo de investigações mesmo antes da greve. Nós estamos apurando se eles também aproveitaram a falta de policiamento ostensivo nas ruas para cometer mais crimes nesse período”, destaca a delegada, que prefere não citar os bairros de atuação para não atrapalhar as investigações. As apurações envolvendo milícias e grupos de extermínio, segundo a delegada, são muito complexas e o volume de homicídios que tem acontecido no período da greve tem dificultado o trabalho de investigação da Polícia Civil. “A demanda está muito grande. Estamos focando nos crimes que têm características de extermínio (cerca de 34%). Não é um trabalho fácil investigar esses grupos, principalmente no momento em que estamos vivendo na cidade. Temos muita dificuldade de conseguir testemunhas e também há a sensação de impunidade que encoraja o cometimento de crimes”, esclarece a delegada.
Moradores de rua foram mortos a tiros na Boca do Rio no dia 4 de fevereiro
Apuração - Contudo, através de testemunhas, anteontem, o Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) concluiu uma investigação que acusa quatro policiais militares, integrantes de uma milícia, de serem os responsáveis pela chacina que terminou na morte de cinco moradores de rua na Boca do Rio, no dia 4 de fevereiro, quinto dia do motim da PM. Os soldados Donato Ribeiro Lima, 47, Willen Carvalho, que foram presos na última quinta-feira, e os soldados Jair Alexandre dos Santos e Samuel Oliveira Meneses, que estão foragidos, usavam um veículo Gol preto para cometer crimes em Salvador. A milícia formada pelos policiais, segundo o diretor do DHPP, delegado Arthur Gallas, é suspeita ainda de ter matado a moradora de rua Jesline Santos de Jesus Carvalho na noite de 3 de fevereiro enquanto ela alimentava sua filha na Praça da Piedade. Gallas destacou ainda que os quatro PMs são investigados por ter uma possível relação com o ex-policial militar e líder da greve, Marco Prisco, que está preso desde quinta-feira em cela comum, na Cadeia Pública, no Complexo Penitenciário da Mata Escura. A suspeita investigada é que eles tenham praticado as mortes combinados com os militares amotinados para criar pânico. A outra suspeita é que eles tenham recebido dinheiro de comerciantes para fazer uma “limpeza” na área. “Além disso, podem ser as duas coisas”, afirma Gallas Os quatro policiais eram lotados na 39ª Companhia Independente da Polícia Militar (Boca do Rio), área de Salvador onde são suspeitos de praticar diversos crimes. Explicações - Gallas aponta três fatores para o volume alto de homicídios no período. “A ação de grupos armados de segurança clandestina, eliminando moradores de ruas que praticam furtos e roubos, incomodando o comércio em bairros de Salvador; de quadrilhas de traficantes, executando desafetos e integrantes de bandos rivais, além do acerto de contas com usuários, e, finalmente, um aumento nos registros de crimes contra o patrimônio, entre eles os latrocínios (roubos seguido de morte)”. As regiões de Cajazeiras, Pau da Lima e Tancredo Neves concentram maior número de homicídios, seguidos pelo Centro, Brotas, Boca do Rio e Itapuã. Em função do volume de homícidios, o DHPP ampliou de três para cinco o número de equipes do Serviço de Investigação em Local de Crime (SILC) por turno. Para garantir a segurança dos investigadores e peritos, que estão indo para os locais sem o apoio da PM, mais quatro policiais civis em outra viatura estão acompanhando a equipe de SILC.
Pontos turísticos da capital baiana foram monitorados por homens do Exército e da Força Nacional
Sensação de tranquilidade - Ontem, no 12º dia de greve da PM, se comparado ao final de semana passado, as praias e o comércio pareciam ter voltado ao normal, mas a movimentação ainda era tímida para a época do ano. “Os turistas não estão vindo e, sem eles, fica difícil. Nós vivemos disso”, disse a vendedora ambulante, Bárbara Santos, 48 anos. Ela trabalha há dois meses em frente ao Farol da Barra, que ontem era policiado por soldados do Exército. No Porto da Barra, a baiana de acarajé Samara Silva de Jesus, 18, estava insatisfeita com o movimento. “Estou com prejuízo muito grande por causa dessa greve”, disse. No Pelourinho, muitos caminhões do Exército e dois carros da PM rondavam as ruas do Centro Histórico. “Hoje está bem vazio, mas a gente sente que o clima está se normalizando aos poucos”, afirmou o atendente de caixa da sorveteria Cubana, Edmilson Souza Andrade, 38. Se de um lado os vendedores e comerciantes estão preocupados, do outro, boa parte dos turistas e baianos voltou a curtir as maravilhas que a cidade oferece. “Salvador é ótima e não tem por que ficar trancado no hotel. Também vejo muito mais boato do que pânico de fato”, disse o paulista João Marcelo, 35 anos. João e a mulher Cíntia Alves, 27, estão na capital há dez dias. Apesar de não estar lotado, como costuma ser, o Porto da Barra estava bem disputado na manhã de ontem. “Na verdade vivemos em uma constante insegurança com ou sem greve. Nos privamos de várias coisas nesses últimos dias, mas agora resolvemos desencantar” disse a estudante Lorena Bonfim, 24, que estava acompanhada por amigos. Com direto a guarda-sol, cadeiras e um isopor cheio de cerveja, os mineiros Claudio Abreu, 34, e Messias George, 40, contemplavam a praia da Boca do Rio sem se importar com mais nada. “Estou na Bahia. Vou me estressar com o quê? Quero mais é ser feliz”, afirmou o advogado Claudio. “Essa greve não vai estragar minha passagem por Salvador. Planejei essa viagem há muito tempo”, emendou o bancário Messias. A Lavagem do Habeas Copus, que aconteceu na noite de sexta-feira na Barra, seguiu de maneira tranquila. A festa estava cheia e bem policiada, segundo ambulantes que trabalham no Farol da Barra. “Ontem (sexta) tinha muitos policiais militares por aqui”, disse a ambulante Bárbara Santos. Mesmo sem PM, alta é atípica - O elevado índice de mortes durante a greve da Polícia Militar em Salvador, segundo o coordenador do observatório de segurança pública da Bahia, professor Carlos Costa Gomes, é atípico se comparado a outras cidades. “Temos exemplos de outros estados do Brasil que uando houve greve da PM os índices de homicídios diminuem. Aqui foi o inverso. Parece que a criminalidade da Bahia atua mesmo sem haver repressão”, explica. Na observação de Costa Gomes, muitos crimes nesse período de greve foram realizados sem finalidade própria.“Essa alta de homicídios pode ter sido provocada por assepsia social, provocada por milícias e grupos paramilitares; por pessoas que têm a vontade de cometer a justiça com as próprias mãos; ou por um reflexo da violência que já está tão instalada na cidade que já se coordena sozinha”.

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