Polícia investiga se morte em táxi foi motivado por vingança

O clima ainda era de Natal. As pessoas se confraternizavam em suas casas e na rua. Mas o cenário de tranquilidade mudou, quando dois passageiros de táxi foram executados na noite da quinta-feira (25), no bairro de Engenho Velho de Brotas. As vítimas aguardavam em um táxi, parado na Ladeira do Pepino, quando dois homens desceram de uma moto e atiraram contra eles. O taxista foi ferido de raspão no ombro. A polícia acredita que o crime pode estar ligado a uma vingança do tráfico. De acordo com a polícia, um dos mortos, Daniel Pinheiro Rabelo, 28 anos, filho de um policial militar da reserva, fazia parte da quadrilha de Robson, também conhecido como Robinho, que comanda o tráfico na localidade de Brongo, em Brotas. Em outubro deste ano, ele e alguns comparsas deixaram o bando, ligado à facção Caveira – o motivo do racha ainda é desconhecido pela polícia. Desde então, o líder Robinho jurou vingança aos desertores. Há quatro semanas, um ex-integrante do bando, Maicon, foi morto em Camaçari, quando trabalhava como ajudante de pedreiro numa obra.Alto risco Em fevereiro deste ano, o CORREIO publicou matéria sobre a disputa entre as quadrilhas de Robinho e Olho de Gato, que detém o controle de bocas de fumo de Cosme de Farias. Na reportagem, moradores e comerciantes disseram que a guerra transformou trecho da Avenida Bonocô em zona de alto risco (veja abaixo). Como o táxi Corsa Sedan (NYT-7615) estava próximo a um beco onde funciona uma boca de fumo, a polícia suspeita que Daniel e o outro rapaz morto, ainda não identificado, estariam trabalhando para um outro traficante ou atuando de forma independente, já que o filho do policial tinha sido visto com frequência no local. Tiros O crime aconteceu por volta das 22h. De acordo com moradores da Ladeira do Pepino, Daniel e o outro rapaz pegaram o táxi na Avenida Dom João VI, nas imediações do Shopping Brotascenter. Pouco depois de o táxi parar na Ladeira do Pepino, os assassinos se aproximaram e atiraram nas vítimas, sentadas no banco de trás. Um dos rapazes, ainda tentou sair do carro, mas caiu no chão. Em seguida, os assassinos pegaram as pistolas escondidas na cintura de cada vítima e deram continuidade à sucessão de tiros. Os bandidos fugiram em seguida. “Estava jantando com a minha família, quando escutamos os tiros. Foi algo impressionante e ao mesmo tempo pavoroso! Deu para ouvir carregando os pentes das pistolas”, disse um dos moradores que não quis revelar o nome. Aproximadamente 20 minutos depois do crime, a pista foi tomada por carros das polícias Civil e Militar. “Tinha viaturas da 6ª Delegacia (Galés), da Gêmeos (unidade da Polícia Militar) e do Departamento de Homicídios (DHPP). Eles (policiais) cercaram todo o local”, contou um jovem que estava com a namorada passeando na rua, na hora dos disparos. “As pessoas apavoradas correram para todos os lados. Quem não conseguiu entrar em alguma casa se protegeu atrás dos carros”, relatou o rapaz.Conflito do tráfico cria ‘Faixa de Gaza’ na Bonocô O trecho entre duas passarelas da Avenida Bonocô é considerado por comerciantes e moradores como a “Faixa de Gaza” da região de Brotas – a rivalidade entre dois grupos é separada por aproximadamente 500 metros de asfalto.O trecho entre a Sanave e a Le Biscuit é conhecido pelos intensos confrontos entre traficantes de Campinas de Brotas e Cosme de Farias, cada um de um lado da avenida. Segundo a polícia, esses crimes estão relacionados à guerra entre duas facções. Em Campinas de Brotas, estão dois grupos ligados ao traficante Perna, Genilson Lima da Silva, custodiado em penitenciária federal. As localidades de Torre e Brongo são comandadas, respectivamente, por Alex e pela dupla Robinho e Del. Eles fazem parte da facção Caveira. As duas se uniram há mais de um ano para tentar tomar as bocas de fumo do traficante Olho de Gato, da Baixa do Tubo, localidade de Cosme de Farias. Olho de Gato, que faz parte da facção Comando da Paz, cumpre pena no Complexo Penitenciário da Mata Escura e tinha como braço direito Tiago Guimarães Pinto, o Titanic, morto junto com o irmão, Jacson Guimarães, e o comparsa Diogo dos Santos, durante uma operação em Camaçari, em fevereiro deste ano.