É domingo, são 10h. Mesmo sem o som do apito, o jogo tem que acabar nas praias de Salvador. Qualquer que seja ele. A partir do próximo mês, a Diretoria Geral de Esporte e Lazer (Dgel), órgão da Secretaria Municipal da Educação (Smed), vai demarcar os trechos das praias com locais e horários para práticas de esporte.
O objetivo do ordenamento, que vai atingir até o baba na areia, é tentar resolver conflitos entre banhistas e praticantes de esporte. Como outros projetos da prefeitura, a Barra deve servir como piloto para implantação das sinalizações, após o Carnaval, mais ainda sem data definida.
Com os limites de espaço e tempo, a prefeitura quer reduzir problemas como os que já aconteceu com a medalhista mundial de futevôlei Manny Gleize, 34 anos. “No Porto, tem os barraqueiros que chegam arrancando a rede, tirando a marcação. A baiana coloca a banca no meio do jogo, então tem que organizar. Com banhista é raro ter problemas”, conta.
Também no Porto, a turma da peteca terá sua tradição preservada. “Com a requalificação da Barra, já fomos procurados pelo pessoal que joga peteca e teme perder espaço. Aí vamos sinalizar pra garantir aquela prática”, explica Téo Senna, titular da Dgel.
Pelo cronograma do projeto, São Tomé de Paripe será a segunda praia a receber as sinalizações. Em seguida, Jardim de Alah. “O prefeito quer isso em andamento em março. O ordenamento vai ocorrer em áreas que já têm esporte. A ideia é que comércio, esporte, lazer e turismo sejam harmonizados. Não pode ter aquele baba nos lugares em que há banhistas e acabe causando algum acidente”, diz Senna.
O estudante Helder de Lima Santos, 20 anos, é praieiro em diferentes posições: pega baba em Jaguaribe e, como banhista, vai muito ao Porto da Barra. “Acho importante a organização. Em Jaguaribe, tem poucos banhistas. Tem mais surfistas e convivem numa boa, sem confusão”, opina. Quem não deve gostar muito são os atletas de fim de semana. Aos sábados, domingos e feriados, em toda a orla (exceto no Porto da Barra), qualquer modalidade esportiva só pode ser praticada na areia das 6h às 10h.
Queixas
Presidente da Federação Baiana de Voleibol, Hércules Henrique Pimenta aprova o projeto em partes. “É bom que demarque. Armação, por exemplo, era só vôlei, foi chegando o beach soccer, então é bom que organize, mas não precisa de horário. Quem trabalha pela manhã, por exemplo, quer ir no final de semana de tarde e vai ficar prejudicado?”, questiona.
Há também quem discorde de qualquer delimitação. O projeto não prevê, por exemplo, áreas para kitesurfe ou surfe em Patamares, mas a praia é muito procurada por quem quer fugir do “crowd” de Piatã e Jaguaribe. Mauricio de Jesus, conhecido como o Pequeno do Kite, pratica e dá instruções para iniciantes em Patamares. “Eu acho que não tem que reservar espaço, cabe o bom senso de não ficar perto de banhistas”.
Já Manny Gleize acredita que as mudanças não terão impacto para os atletas da areia. “Após as 10h, geralmente, a areia já está muito quente, então é um horário que as pessoas deixam mesmo a praia”, justifica. De acordo com Téo Senna, a demarcação pode vir a ser flexibilizada. “Tudo é possível de negociação. Tem locais que vai dar pra mudar, a depender da experiência, outros não”.
Durante a semana, para os esportes na areia, há dois períodos previstos: 6h às 11h e 16h às 22h. Modalidades praticadas na água, como surfe, kitesurfe, windsurfe, natação e canoagem não têm limite de horário, mas contarão com áreas demarcadas. Para os banhistas, a praia é livre, mas apenas nos locais não destinados ao desporto.
A fiscalização ficará sob responsabilidade da própria Dgel, órgão da Secretaria de Educação do município (Smed). Se necessário, a Secretaria de Ordem Pública (Semop) e a Guarda Municipal podem ser acionadas. Também haverá sinalização dos pontos de desova de tartarugas. Nenhuma placa ficará na areia.
O projeto começou a ser formulado na gestão do ex-prefeito João Henrique, na extinta Secretaria Municipal de Esporte, Lazer e Entretenimento (Smel), que mapeou os usos da praia e fez pesquisas com banhistas e comerciantes. Em 2008, a prefeitura já havia publicado um decreto com o regulamento, porém, alegando falta de orçamento, a sinalização jamais foi realizada.
Porto da Barra e Jaguaribe foram os recordistas de queixas. A rua Porto dos Tainheiros, na Ribeira, e a Praia do Flamengo, também são pontos apontados como urgentes para o ordenamento, de acordo com o relatório que acompanha o projeto.
Iluminação
Junto com a sinalização das praias, a Diretoria de Esportes pretende incentivar as atividades noturnas. Para isso, será implantada uma iluminação específica nas praias, com lâmpadas em postes mais altos. “O trecho do Quartel de Amaralina até a Pituba, que é usado para esportes, já teve iluminação colocada. Vamos chegar até Itapuã”, diz o diretor de Iluminação da Semop, Helder Campos. Entretanto, a iluminação especial não será implantada em praias como a da Boca do Rio, identificadas como ponto de desova de tartarugas.
Matéria original: Jornal Correio* Prefeitura vai dar limites de espaço e tempo para prática de esporte na praia
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