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Rotas perigosas: assaltos assustam motoristas Uber em Salvador

Muitos já deixam de atender solicitações em algumas localidades com medo de ataques

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Redação iBahia

03/03/2017 às 7:04 • Atualizada em 27/08/2022 às 4:19 - há XX semanas
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Sexta-feira de Carnaval. O motorista do aplicativo Uber Tiago Fernando Gusmão, 32 anos, transportava dois homens e uma mulher para a Santa Cruz. Os passageiros embarcaram em Ondina à 1h e disseram que ficariam em um dos edifícios da Rua Onze de Novembro, a principal. “Quando chegamos no destino, o carona encostou a ponta de uma faca na minha barriga e anunciou o assalto”, lembra Tiago. Ele teve os R$ 220 e o celular levados pelo trio, que conseguiu fugir a pé.
Crédito: Editoria de Arte do CORREIO
Por conta dessa e de outras ocorrências, alguns motoristas do Uber têm evitado aceitar solicitações para diversos pontos da cidade. Muitos temem circular na Santa Cruz, São Gonçalo e Chopm I (Cabula), Bairro da Paz, Cocisa (Paripe), Lobato, Congo (Periperi), além do Planeta dos Macacos e a Yolanda Pires (São Cristóvão), a comunidade de Santa Rosa de Lima, o Inferninho, e a Baixa Fria (Costa Azul), e do Bate Facho (Boca do Rio).
Tiago não foi a única vítima recente de violência contra motoristas do Uber na capital. Quatro dias depois de ele ser assaltado, o também motorista Ramiro Fernandes Teles da Rocha, 23, foi encontrado baleado dentro do carro que usava para trabalhar, no Cabula. Ele foi socorrido, mas chegou morto no Hospital Geral Roberto Santos.
O medo de entrar em alguns locais vem da experiência própria ou dos casos compartilhados em grupos no WhatsApp. “Os relatos são constantes. Nos comunicamos via WhatsApp e toda hora é um relato”, conta o motorista Flávio Braga, 35, que tem recusado corridas para São Cristóvão após relatos de assaltos a colegas no Planeta dos Macacos e na Yolanda Pires.
Pagamento em dinheiro
Ao CORREIO, motoristas que utilizam o app – que opera em Salvador desde abril de 2016 – disseram que os casos de violência contra eles aumentaram significativamente depois que o aplicativo passou a aceitar pagamento em dinheiro, a partir do segundo semestre do ano passado. “Antes, quando o pagamento era somente através do cartão de crédito, não tínhamos assaltos. Agora, viramos alvos fáceis dos bandidos”, declara Tiago.
Ainda segundo ele, quando foi assaltado, ele não desconfiou, inicialmente, que a corrida era uma cilada. “Eles vieram conversando, brincando um com o outro, descontraídos, falando sobre o Carnaval. Até então, não podia imaginar nada”, recorda.
Porém, em um determinado momento, Tiago ficou desconfiado. “O rapaz que estava no carona perguntou: ‘Tá fazendo muita corrida?’. Foi aí que cismei. Respondi que, como havia muito engarrafamento por causa de outros motoristas, taxistas e motoboys, fazia pouca corrida”, conta. Apesar da desconfiança, ele seguiu e acabou assaltado.
Pensei que ia morrer'
Os momentos vividos no dia 8 de janeiro deste ano dificilmente serão apagados da memória do motorista Diego Ferreira, 30. Ele disse ter vivido uma das piores experiências de sua vida. “Por instantes, pensei que iria morrer”, declara. Por volta das 17h40, ele tinha acabado de concluir uma corrida do Imbuí para o Costa Azul quando aceitou uma outra de imediato.
“Não é aconselhável ter um alto índice de recusa de corridas porque o serviço Uber pode, por um período, desvincular o motorista”, diz. Ao chegar nas imediações do Centro de Convenções, o passageiro, um rapaz que usava uma muleta, chegou a deixar Diego comovido. “Foi quando parei e, no lugar do rapaz, entraram três homens no carro. Fiquei tenso”, relata.
Tiago Gusmão teve celular e dinheiro roubados ao encerrar corrida na Santa Cruz (Foto: Mauro Akin Nassor/CORREIO)
A corrida foi até uma rua sem saída ainda no Costa Azul: “Quando, de fato, percebi do que se tratava, já tinha levado um ‘mata-leão’ de um deles que estava no banco de trás e sequer conseguia respirar. Foi aí que um deles viu minha Bíblia no carro, perguntou se eu era crente, respondi que sim e me liberaram”. Os bandidos levaram R$ 50 e o celular.
Sem informações
Já Marcos Vinicius Gonçalves, 28, escapou por pouco. Em novembro do ano passado, ele tinha acabado de deixar um casal na Boca do Rio quando resolveu aceitar uma solicitação ainda no mesmo bairro. Era por volta das 4h30. “Achei que não haveria problema porque a solicitação vinha em nome de Babi, na verdade, um apelido. Mas desconfiei porque, quando cheguei perto do destino, ligava para o celular e ninguém atendia”, conta.
Ele resolveu ir com cautela. “Desci a rua com o farol alto e, ao dobrar uma esquina, avistei de longe quatro homens armados, um deles agachado com um celular. Dois deles correram em minha direção e acelerei em cima deles, que pularam”, lembra. “A gente tem que apresentar antecedentes criminas, atividade remunerada na carteira, o carro tem que estar legalizado, mas a gente não tem informação nenhuma do passageiro, a não ser um nome, que pode ser um apelido, e endereço para você ir”, complementa.
Estratégias
O medo dos assaltos tem feito até com que alguns motoristas arrisquem até a suspensão do aplicativo. “Prefiro ser suspenso por um período a ser novamente assaltado. Essa é a única medida de segurança”, declara o motorista Tiago Fernando Gusmão, que trabalha no ramo há cinco meses.
Ele, que já não entra em Santa Cruz, recusa chamadas para a localidade de São Gonçalo, nas imediações do Cabula, e para o Bairro da Paz. Cocisa (Paripe), Lobato, Periperi - no Congo - são locais do Subúrbio também evitadas. “A insegurança nesses bairros é grande demais. A bandidagem está atenta. Trabalhamos nisso porque precisamos”, afirma Cláudio Macêdo, 27.
Com a morte de Ramiro, na terça (28), motoristas preferem não atender a localidade de Chopm 1, no Cabula. “Depois do que aconteceu com o colega, quem quer ir lá? Para ser o próximo? Eu mesmo não”, disparou o também motorista Renato Luís Maia, 30.
Resposta
Em nota, o Uber lamentou a violência, afirmou que colabora com investigações e que, “em caso de assalto ou qualquer tipo de violência, orientamos os usuários e motoristas a contatar imediatamente as autoridades policiais”.
O CORREIO procurou a Polícia Militar da Bahia para comentar as queixas, mas não obteve resposta.
*Com colaboração de Gil Santos

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