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Terreno da Silveira Martins que há dois anos não tinha nada recebeu um centro comercial, onde funcionam atualmente bancos e farmácia |
Três shoppings, 12 oficinas mecânicas, 16 bares e restaurantes, oito casas de materiais de construção, três pet shops, quatro faculdades e até um centro de cursos de artesanato e outro de depilação. Essa descrição poderia ser de um trecho da Avenida Sete de Setembro, no Centro, ou da Manoel Dias da Silva, na Pituba, mas é da Rua Silveira Martins, no Cabula. Nos cinco quilômetros da via, que corta o bairro e faz a ligação com a Paralela e Rótula do Abacaxi, são 334 estabelecimentos comerciais. Há dois anos, segundo dados do Sindicato dos Lojistas do Comércio do Estado da Bahia (Sindilojas), a Silveira Martins tinha menos de 200 comércios formais. Ao contrário dos bairros populares, onde só há pequenos mercados, a rua recebeu em dois anos grandes lojas varejistas - Insinuante e Casas Bahia - e, no próximo mês, será aberta uma unidade das Lojas Americanas. Em 2010, ao se mudar para o Cabula, Márcia Andrade, 28 anos, precisava ir ao Centro da cidade para realizar serviços bancários. Mas, há dois meses, ela só precisa atravessar a rua. “Abriu uma agência na porta da minha casa. É muito mais fácil, além de economizar tempo de deslocamento”. No mesmo trecho da nova agência Itaú, que fica em frente ao Hiper Bompreço, foi aberta também uma agência do Banco do Brasil. Perto dali, há ainda uma unidade da Caixa Econômica Federal (a mais antiga da rua, que já tem mais de 10 anos), e mais duas agências bancárias, do Bradesco e do Santander. Atualmente, ainda está em construção uma unidade da farmácia Pague Menos na entrada do Resgate. “Aqui, antes só tinha uma farmácia na frente do Bompreço, agora tem várias. Isso é ótimo porque além de ser perto de casa, ainda dá para pesquisar bastante o preço”, diz a aposentada Zuleide Silva, que mora no Cabula há 30 anos. Há quem já não saia do Cabula em dias de semana para nada. É o caso do enfermeiro Jorge Oliveira. “Moro, trabalho, faço supermercado, corto cabelo, tenho aula na autoescola e no curso de inglês na Silveira Martins. Ainda não gasto com transporte. Vou a pé ou uso bicicleta. Só saio daqui nos finais de semana e não sinto a menor falta”. Segundo a Superintendência de Trânsito e Transporte de Salvador (Transalvador), por dia, das 7h às 20h, circulam 50 mil veículos na Silveira Martins. De olho nos passantes, Maria Monteiro resolveu abrir uma loja de roupas na rua. “Faço a vitrine chamativa e as mulheres sempre param”.
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Joseneide dá aulas de artes no Saboeiro; antes, trabalhava no Itaigara |
InvestidoresMotivada pelo crescimento do comércio na rua, a comerciante Nelma Vieira inaugurou há duas semanas o Nel Depil, centro de depilação masculina e feminina. “Olhei cinco lugares antes de escolher esse ponto. Aqui é ótimo porque é perto do call center da Vivo, que tem mais de 5 mil funcionários”, diz. Mas Nelma, que já trabalhou em outros bairros da cidade, optou pelo negócio na Silveira Martins também pensando na comodidade. “Moro no Saboeiro e perdia muito tempo me deslocando para os lugares do Centro da cidade. O importante é ganhar dinheiro com qualidade de vida”, define a empresária. Foi essa mesma motivação que fez a artista plástica Joseneide Amaral trocar seu trabalho em uma galeria no Itaigara por um negócio próprio na Rua Silveira Martins. Há quatro anos, ela abriu a Alquimia das Artes no Saboeiro. “Quando eu trabalhava no Itaigara, saía do trabalho 18h e tinha dias que eu chegava aqui 21h. Agora, eu fecho a loja e cinco minutos depois estou em casa”. Joseneide oferece hoje na Silveira Martins serviços que só eram possíveis de encontrar em bairros nobres da cidade. “Aqui dou cursos de artes e técnicas de pintura. Essas coisas não tinham para esse lado da cidade. E ainda tem o preço mais em conta porque a aula que eu dou aqui por R$ 18 em outros lugares é mais de R$ 200”, observa.
MercadoO presidente do Sindicato dos Lojistas do Comércio do Estado da Bahia (Sindilojas), Paulo Motta, aponta que o comércio na rua cresce mais do que o dobro em comparação com os números totais de Salvador. “Em toda a capital, ano passado, o volume de crescimento do comércio foi de 4,5%. Na Silveira Martins, impulsionada pelos pequenos comércios e pelas grandes redes de varejo, o crescimento foi de 10%, com tendência de alta”, explica. Segundo Motta, o foco do empresariado nas ruas populares visa a fidelização do cliente aliada com a comodidade. “Hoje, a dificuldade de locomoção das pessoas é um dos maiores entraves para o comércio fidelizar seus clientes. Por esse motivo há uma força do mercado varejista de expandir seus domínios para os bairros populares. Isso é reflexo também do aumento do poder de compra da classe C”. Dados do Sindilojas indicam que a maioria das lojas da Silveira Martins tem foco na classe C, que tem faixa de renda de R$ 1.734 a R$ 7.475. Para Motta, o custo operacional de manutenção e instalação de lojas nos bairros populares é o que tem estimulado o crescimento do comércio em locais com a Silveira Martins. “O custo para colocar um estabelecimento comercial em um shopping center é muito alto se você for comparar com os bairros populares. Por esse motivo, acaba sendo menos oneroso para os empresários abrirem filiais nesses bairros. Além de ser mais barato, é onde está o cliente”, esclarece.
Mudanças Um movimento constante na Silveira Matins tem sido o fechamento de um estabelecimento para abertura de 2 ou 3 no mesmo local. Foi o que aconteceu, por exemplo, no início da rua - próximo da entrada de Pernambués. Ali, no espaço onde funcionava apenas uma loja de colchões, foram abertas duas lanchonetes: uma filial da rede americana Subway e uma especializada em sucos naturais. Frederico Pereira, agente de desenvolvimento da Subway no Nordeste, explica que a decisão de abrir uma loja na Silveira Martins foi estimulada pelo grande volume de pessoas que circulam na rua. “Identificamos uma grande densidade de pessoas, principalmente no horário comercial, circulando na região e com uma carência de opções para alimentação”, comentou. Ele pondera, entretanto, que a infraestrutura da região “ainda é um pouco precária, precisa melhorar”. Apesar disso, a rede deve inaugurar em 90 dias outra filial na rua.
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Nas horas de pico, trafegar na rua exige paciência; não há estacionamento e a fiscalização é insuficiente |
Congestionamentos crescem junto com os serviçosEnquanto os serviços e o comércio crescem rapidamente na Silveira Martins, a mobilidade diminui. Quem passa pela via em horários de pico (7h às 9h, 12h às 14h, 16h às 20h) chega a levar 45 minutos para percorrer um quilômetro. O pior fluxo, segundo a Transalvador, é no sentido da rua em direção ao Saboeiro, que da acesso à Avenida Paralela. O diretor de trânsito da Transalvador, Marcelo Correia, indica que o principal problema da Rua Silveira Martins é a estrutura do solo, aliada com a falha de sinalização. “O asfalto tem muitos buracos e ondulações o que impossibilita que seja feita uma sinalização adequada. Com os buracos, as pessoas tendem a andar em menor velocidade”, diz. Correia explica que os estacionamentos irregulares, principalmente nas calçadas, refletem o crescimento do comércio e também influenciam nos engarrafamentos. “Como tem lojas nos dois lados, muitas delas em curvas, os clientes não têm onde parar. O pior é que os comerciantes arrancam as placas de sinalização, pois sabem que sem as placas ninguém pode ser multado. Há também muitas escolas nessa rua, o que impacta no trânsito nos horários de entrada e saída dos alunos. Além disso, os pontos de ônibus não têm recuo”, lembra Correia. Segundo ele, ainda esse semestre serão recolocadas placas de sinalização. O diretor de trânsito da Transalvador afirma ainda que, em função do fluxo, a fiscalização é complicada. “Só temos hoje uma viatura para cobrir a Silveira Martins, CAB e Sussuarana, mas em breve vamos aumentar”. Outro ponto de constante engarrafamento é o entorno da Igreja de Nossa Senhora do Resgate. “Quando tem missa, o povo estaciona em qualquer lugar”, diz Priscila Santos, que mora bem em frente ao templo. Os representantes da igreja foram procurados, mas ninguém falou com a reportagem.
Requalificação ainda fora dos planos da prefeituraMesmo com a necessidade de intervenções na via, a Secretaria de Urbanismo e Transporte (Semut), através da assessoria de comunicação, informou que não há nenhuma obra estruturante no trânsito programada para a região. Se não há previsão de grandes obras, pelos menos a buraqueira e as ondulações da Rua Silveira Martins devem ser combatidas ainda neste semestre. Isso é o que informa a Superintendência de Conservação e Obras Públicas do Salvador (Sucop). De acordo com a assessoria do órgão, a rua precisa passar por um processo de recapeamento total, já que as ações de tapa-buraco não conseguem suprir a demanda da área, principalmente pelo grande volume de carros que circulam todos os dias. E o número de veículos vai aumentar. Estão em construção na rua dois grandes empreendimentos residenciais com previsão de entrega até 2015. Já em 2014, será entregue o Horto Bela Vista, que fica na Ladeira do Cabula, e terá a rua como um dos principais acessos. Contando os três empreendimentos, serão pelo menos mais dois mil apartamentos no entorno da Rua Silveira Martins.
Matéria original: Correio 24h Silveira Martins, no Cabula, vira nova rota de lojas e serviços