Sabe aquela imagem de Salvador conhecida no mundo todo? O Elevador Lacerda imponente decorando a encosta da cidade, ladeado por casarões do início do século XX com suas fachadas de colorido vibrante.... Esqueça. Atualmente, o frontispício da capital baiana, como é chamada a parte frontal da encosta que divide as cidades Alta e Baixa, está mais para ruína do que cartão-postal. O CORREIO percorreu todos os 17 casarões que ficam entre o Elevador e a Igreja da Conceição da Praia. Aliás, nem todos. O casarão número 34, pertecente à Irmandade da Conceição da Praia, desabou em julho de 2010, matando uma pessoa. Continua do mesmo jeito. Já o de número 30, abrigava uma loja, mas foi destruído pelo fogo em outubro do mesmo ano. Está fechado e oco. Nos outros 14 casarões, funcionam nove lojas, quatro bares, uma associação cultural e uma das sedes do Centro de Defesa da Criança do Adolescente (Cedeca-BA). “Estamos há 21 anos neste local e atualmente a área está muito degradada mesmo. Não há dúvida”, afirma Waldermar Oliveira, membro da coordenação do Cedeca. Segundo ele, a entidade já está em busca de recursos para fazer uma reforma geral no imóvel, incluindo a fachada.
Impasse Por falar em fachada, quem circula pela Rua da Conceição da Praia logo vê que este é o maior problema dos imóveis, todos tombados pelo Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Pintura descascando, janelas e portas de madeira empodrecidas e telhado envelhecido são comuns, prejudicando o visual da cidade. Entrando de loja em loja, porém, percebe-se que a estrutura interna dos imóveis, em geral, não apresenta problemas. Tanto é que, segundo a assessoria da Defesal Civil de Salvador (Codesal), nenhum dos que estão de pé corre risco iminente de desabar. “Mantenho a estrutura interna porque tenho que cuidar do estoque e receber os clientes bem, mas é difícil cuidar da fachada com todas as exigências do Iphan”, admite Eden Soidan, dono do imóvel 8, onde funciona a loja Oceania. As exigências a que ele se refere dizem respeito ao processo de tombamento, diferente para cada imóvel. Alguns devem seguir normas para fazer qualquer intervenção na estrutura, outros somente para mexer na fachada. “O imóvel é nosso, mas não somos nós que mandamos, então o governo deveria ajudar”, completa Eden, que vende artigos para pesca. Um outro lojista tem opinião diferente. Cezar Fahel, que vende artigos para festas no casarão 24, não vê motivo para o governo bancar a manutenção. “No shopping, quem é que cuida? O dono. Governo tem que dar atenção à segurança, limpeza”, afirma ele, sem dizer quanto gasta com a menutenção. Muito degradado, o casarão número 18 abriga um bar e está à venda. Pelo telefone, um corretor informa: “R$ 800 mil, com toda a documentação certinha. Mas tem negócio”. Se quiser fazer o investimento, favor lembrar de um detalhe: a cidade agradece se você cuidar da fachada. Proprietários podem financiar obras de casarõesPor impor normas rígidas para que os imóveis tombados sofram intervenção, o Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) motiva muitas queixas dos donos dos casarões. “Como podemos fazer obras aqui dentro, fazemos. A fachada é mais difícil, porque tem que ser um material específico, com o serviço de uma empresa que o Iphan indica, é sempre mais caro”, reclama Aguinaldo Lima, responsável pela loja Terra e Mar, que funciona no casarão 12 da Conceição. O superintendente do Iphan na Bahia, Carlos Amorim, não foi contactado porque está fora do país. De Brasília, a assessoria nacional do órgão informou que existem diversas linhas de financiamento para obras em edificações tombadas, algumas com juro zero. Para conseguir a verba, é preciso apresentar um projeto de acordo com as características do imóvel, provar que não tem recurso e, é claro, dar garantias de pagamento. Para o arquiteto e professor de Planejamento Urbano da Unifacs, Armando Branco, o Iphan está certo em fazer exigências. “Estas edificações representam uma fase da nossa cultura. Imagine se os franceses não cuidassem dos seus monumentos, o que seria de Paris?”, resumiu. Irmandade já tem projeto para reerguer Casa RosaConhecida como Casa Rosa, o imóvel 34 da Rua da Conceição desabou em julho de 2010 e assim ficou. O casarão pertence à Irmandade da Conceição da Praia e, segundo o padre Valson Sandes, pároco da Basílica da Conceição, já existe um projeto de reconstrução, ainda à espera de verba para sair do papel. “O orçamento é de cerca de R$ 1 milhão, mas a previsão é que seja um espaço de excelência, com espaço da paróquia, salão de festa e até um café”, revela, informando que a irmandade está tentando captar os recursos. Padre Valson lembra ainda que a própria igreja precisa de reparos (também aguardando recursos), já que parte de sua cobertura foi condenada pela Codesal e em setembro do ano passado, o Iphan recomendou o fechamento do templo até que a obra seja feita, o que não ocorreu.
Entre o Elevador e a Igreja da Conceição existem 17 imóveis. Um deles já caiu |
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