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Conheça a história de Zelito Miranda, rei do 'forró temperado'

Artista, que ficou conhecido como rei do 'forró temperado', criou um estilo único de fazer música e é homenageado no Troféu Zelito Miranda

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Naiana Ribeiro

24/05/2024 às 8:00 • Atualizada em 24/05/2024 às 8:37 - há XX semanas
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Faltando exatamente um mês para o São João, a Rede Bahia anunciou nesta sexta-feira (24) o Troféu Zelito Miranda, que elegerá a música preferida do público durante a festa junina. No ritmo da sanfona, você é quem escolhe o hit da folia junina deste ano.


				
					Conheça a história de Zelito Miranda, rei do 'forró temperado'
Conheça a história de Zelito Miranda, rei do 'forró temperado'. Foto: Clarice Miranda

A estrela do "Rei do Forró Temperado" segue brilhando após a sua passagem e, para marcar a importância de Zelito para a cultura baiana, o artista é homenageado neste ano pela Rede Bahia.

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Conheça a história de Zelito Miranda

Zelito Miranda certamente deixou uma marca permanente na música nordestina e na cultura brasileira como um todo. Sua paixão pelo forró, mesmo que não tenha sido imediata, acabou por se tornar uma parte intrínseca de sua identidade artística. O artista baiano, que morreu em 2022, contribuiu para a preservação e promoção do forró, mas também se destacou como um defensor incansável da riqueza cultural do Nordeste.

O Forró do Parque - iniciativa criada por Zelito e que, em 2023, foi comandada por Del Feliz - não só proporcionou um espaço para a celebração do forró, mas também desempenhou um papel crucial em manter viva essa tradição por um longo período.

Ao longo das edições do evento, Zelito reuniu nomes do forró como Del Feliz, França (ex Mastruz com Leite), Asa França, Flor Serena, Filomena Bagaceira, Estakazero, Adelmário Coelho, Alcymar Monteiro, Targino Gondim, e de outros gêneros da música brasileira, como Bailinho de Quinta, Tonho Materia, e Denny Denan.


				
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Zelito Miranda morreu aos 67 anos em Salvador. Foto: Redes sociais

Com o tempero especial, Zelito conquistou fãs de diferentes gerações e ao iBahia, o forrozeiro celebrou a diversidade do público em seus shows e o interesse deles no forró raiz, e não tradicional, como ele gostava de frisar.

"Vejo no Forró do Parque uma plateia 50/50. Vejo gente jovem e gente que me acompanhou através de gerações aí. Eu não sou tão velho não (risos). Fico muito feliz quando vejo uma galera jovem vibrando também, porque tem essa coisa da raiz. O rock foi assim, o reggae também. Você pega Edson Gomes e Isac Gomes, e o que o pai fez, o filho está fazendo na mesma praia, então acho que esse é o caminho da raiz".

Além de sua contribuição musical, Zelito Miranda também se envolveu com o teatro, demonstrando sua versatilidade e talento artístico em diferentes formas de expressão. Seu apelido carinhoso, "O Cabeludo", reflete a proximidade e o carinho que ele compartilhava com seus amigos e colegas de trabalho.


				
					Conheça a história de Zelito Miranda, rei do 'forró temperado'
Foto: Reprodução / Redes sociais

Zelito Miranda é lembrado hoje não apenas por suas músicas, mas também por seu compromisso com a preservação cultural e por sua autenticidade como artista.

"Eu comecei logo cedo, cheguei do interior menino puro e besta querendo fazer arte. Me engajei com a galera que fazia pesquisa, passei pela pintura, depois cai no teatro. Fiz nove anos de teatro profissional. Meu quartel era o teatro Vila Velha, na época com João Augusto, Benvindo Siqueira, Harildo Deda. Eu no meio daquelas feras todos", gostava de contar.


				
					Conheça a história de Zelito Miranda, rei do 'forró temperado'
Conheça a história de Zelito Miranda, rei do 'forró temperado'. Foto: Reprodução / Redes sociais

Em entrevista ao iBahia no meio de 2022, em preparação para o primeiro São João pós-Covid, o cantor falou sobre a mistura de ritmos no gênero e sobre a resistência do forró raiz.

"Eu não gosto do termo “tradicional”, meu forró é temperado, eu gosto da mistura. Mas eu tenho uma coisa, eu mantenho a raiz de triangulo, sanfona e zabumba, porque eu acho que é super importante, é essa a raiz que dá universalidade. É a raiz que abraça gerações e motiva as pessoas", disse.

Envolvendo-se simultaneamente com o teatro, Zelito Miranda iniciou seus estudos musicais com o renomado maestro Lindembergue Cardoso, figura de destaque na Escola de Música da Universidade Federal da Bahia e um dos principais instrumentistas do estado. Em seguida, ele mergulhou no universo do rock e integrou os Novos Bárbaros, um grupo de grande sucesso nos trios elétricos de Salvador durante os anos 1980, antes de ser atraído pelo forró.

Após ganhar um concurso em Arempebe, na Região Metropolitana de Salvador (RMS), com a música "Nos Olhos da Onça", Zelito chamou a atenção da organização do projeto Pixinguinha Nacional, da Funarte. Inicialmente previsto para viajar pelo país realizando shows ao lado de Inezita Barroso, Zelito acabou se juntando a Belchior devido a problemas de saúde enfrentados pela cantora. Essa parceria não só resultou em apresentações memoráveis, mas também estabeleceu uma amizade duradoura entre o cearense e o baiano.

"'Bel' me chamava de professor. Desenvolvemos uma amizade muito grande. Uma vez imitei ele, ele atrás de mim no placo, acho que não gostou muito não", contou Zelito, ao lembrar a amizade com o cantor e compositor cearense.

Após gravar o primeiro disco de forró, Zelito passou a chamar sua música de MPN (Música Popular Nordestina). Em seguida, passou a defender nos palcos o legado do maior forrozeiro brasileiro, Luiz Gonzaga.


				
					Conheça a história de Zelito Miranda, rei do 'forró temperado'
Zelito Miranda e Olodum em uma edição do Forró do Parque. Foto: Redes Sociais

As incursões de Zelito pelo rock, MPB e sua experiência nos trios elétricos lhe renderam o apelido carinhoso de "Rei do Forró Temperado". Em suas performances nos palcos e gravações, o cantor e compositor agregava novos instrumentos, arranjos e melodias à rica tradição do forró pé de serra. Suas colaborações artísticas refletiam a diversidade e versatilidade de Zelito, que dividiu o microfone com artistas renomados como Genival Lacerda, Olodum, Cascadura, Trio Nordestino, Bailinho de Quinta, entre outros.

Além disso, Zelito foi um dos primeiros a promover ensaios do gênero nordestino em casas de espetáculo na capital baiana. Com um DVD e 12 CDs lançados, ele se tornou o anfitrião de um projeto que se transformou em tradição em Salvador: o Forró no Parque, que Del Feliz assumiu em 2023. Essa iniciativa foi responsável por prolongar o período de destaque do ritmo na cena cultural de Salvador.

"Zelito sempre foi uma referência de muita alegria, de muito sorriso, mas também de arte. Porque além de forrozeiro, Zelito era musicista, compositor, escritor, ator, um artista completo", disse Del Feliz.

Adelmário Coelho também falou sobre o amigo, que foi uma grande inspiração para a carreira dele. "Zelito era um cara generoso, ele tinha essa parte de ter um coração grande. Um grande artista, mas com um coração maior do que a habilidade artística dele. Sempre foi assim. Foi uma perda precoce, que ninguém esperava (...) Ele deixa o legado da sede de viver. Além de ser um grande artista, era uma pessoa muito generosa, de coração grandioso".


				
					Conheça a história de Zelito Miranda, rei do 'forró temperado'
Foto: Arquivo iBahia

Defensor do forró e da cultura nordestina, promovia para além dos show discussões e chamava atenção para a participação do forró em eventos, especialmente onde o ritmo passou a perder espaço.


				
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Zelito Miranda no Parque de Exposições, em Salvador. Foto: Thiago Del Rey/Governo da Bahia

Em uma de suas últimas canções gravadas, "Nasci para Cantar", Zelito Miranda condensa sua vida em uma melodia que é um testemunho fervoroso da cultura nordestina, repleta de referências a ícones como João Gilberto, Jackson do Pandeiro e o majestoso rio São Francisco. Como uma figura proeminente na defesa e promoção da cultura do Nordeste, Zelito Miranda se despede dos holofotes, mas seu legado perdura na narrativa que ele entoou ao longo de sua trajetória: "Quando chego e solto a voz em todo lugar tem farra. Eu nasci para cantar e cantarei".

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