Considerada a terra de todos os santos, encantos e axés, a Bahia busca um novo título para chamar de seu junto à Câmara de Patrimônio Histórico, Artístico, Arqueológico e Natural de Cachoeira.
Em meio ao retorno dos festejos juninos após dois anos de "hiato" devido à pandemia da Covid-19, a Câmara se uniu à luta dos forrozeiros da Bahia para iniciar um processo estadual inédito de tornar o forró patrimônio imaterial do estado.
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O projeto foi apresentado a menos de uma semana do São João em uma sessão extraordinária realizada em Cachoeira, no recôncavo baiano, uma das cidades mais procuradas para curtir as festas da temporada.
Ao iBahia, Alessandra Gramacho, coordenadora estadual do Fórum Forró de Raiz na Bahia, que participou do momento, comentou a aprovação por unanimidade da abertura do registro.
"Esse pedido de reconhecimento da Bahia endossa o registro nacional, que a gente conseguiu ano passado. Acredito que todo esse mapeamento, cadastramento de artista, o conhecimento do fazer cultural do forró e das matrizes do ritmo, nos empoderou e nos fez entender que o forró também é oriundo da Bahia. Foram histórias contadas, saberes ancestrais, lembranças de alvorada, relatos ancestrais. Esse registro vem para fortalecer o estado que mais produz forró na época junina e julina, e que precisa de mais manutenção e instrumentos para proteger e salvaguardar o patrimônio".
Para que o título seja dado à Bahia, é necessário seguir alguns outros passos. Primeiro o Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural do Estado da Bahia (IPAC) elabora um estudo aprofundado sobre o tema, para que em seguida a Câmara de Patrimônio Histórico, Artístico, Arqueológico e Natural decida sobre o registro.
"Diferente do registro nacional em que todos os fóruns instituídos no Brasil, convidados por dona Joana Alves, que solicitou o registro na Paraíba em 2009 e nós trabalhamos com as pesquisas, aqui na Bahia quem vai iniciar esse registro é a Câmara de Patrimônio Histórico, Artístico, Arqueológico e Natural de Cachoeira e o Conselho de Cultura. Nós iremos ajudar com toda pesquisa que fizemos ao longo dos anos, mas eles têm a possibilidade de fazer o registro"
Alessandra Gramacho, coordenadora estadual do Fórum Forró de Raiz na Bahia
Em recente entrevista ao iBahia, o cantor Adelmário Coelho falou sobre a força do Forró e como o ritmo tem potencial para representar o estado nos 365 dias do ano, assim como outros gêneros que fazem barulho fora do mês de junho.
"O forró tem potencial e riqueza cultural para acontecer de janeiro a janeiro, como a gente diz. Nós temos essa vontade de que seja assim, e para a gente acontece. Não com a mesma plenitude das festas juninas, mas rodamos o Brasil com o forró em outros momentos".
O pedido de reconhecimento para a Bahia, um desejo antigo dos representantes do forró, acontece seis meses após o ritmo ser declarado Patrimônio Cultural do Brasil pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).
Na época, o Iphan pontuou a importância do forró como um supergênero e de seus ritmos derivados, como xote, xaxado, baião, côco, como fortalecedores da identidade nordestina e nacional.
“A noção de 'matrizes' serve para destacar práticas que, estando vivas e em plena vigência, inspiram continuamente forrozeiros e músicos contemporâneos de diversas outras filiações e são, portanto, seminais à aparição de novas formas de forró, mas também sustentam a dinâmica de transformações e reinvenções das próprias matrizes, garantindo sua continuidade no tempo”
Parecer Técnico de 2021 do Departamento de Patrimônio Imaterial (DPI) do Iphan
A caminhada dos forrozeiros no processo de reconhecimento do gênero como patrimônio cultural brasileiro teve início em 2011 e demandou uma verdadeira força-tarefa por parte de quem faz a arte acontecer e dos amantes do gênero na catalogação de documentos e materiais que ajudassem o processo.
Na Bahia foram instituídos sete fóruns municipais para auxiliar na pesquisa, sem ajuda de custo governamental. Ao iBahia, Alessandra relembra que a luta foi reconhecida pelo Iphan que elogiou a dedicação dos grupos.
"As pessoas costumam tentar enfraquecer os movimentos políticos, sociais e culturais. Costumam falar que o pessoal do forró não é unido, que não tem mulher no forró, isso não existe. Não é atoa que percebe-se que estamos sobrevivendo. É por isso que pedimos que o estado proteja o ritmo, porque corremos risco de extinção. Estamos sendo descaracterizados, principalmente em Salvador. Com isso a gente consegue compreender que nós somos lutadores, agarrados a nossa cultura de identidade nordestina e que não somos apenas um produto comercial".
Botando o pé na estrada para o São João após dois anos de pandemia
Ao longo do mês de junho, o iBahia conversou com alguns forrozeiros que passaram dois anos longe das estradas devido à pandemia da Covid-19.
Com shows agendados pelos 417 municípios do estado, os artistas entrevistados pelo site não esconderam a emoção de poder retornar aos palcos e ter o tão sonhado encontro com o público. Confira as declarações:
“Há uma expectativa muito grande, de demanda reprimida, que é grandiosa. Estamos em um pré-aquecimento desde o momento que foi autorizada a realização das grandes festas".
Adelmário Coelho
“O forró foi premiado com essa retomada. Com o São João ser o primeiro grande evento a poder realizar a festa na sua totalidade. Fico muito feliz, apesar desse 'karma' que é a Covid e o medo dos novos casos. Mas coisa ruim a gente tem que jogar para trás, e vamos tocar o nosso São João”.
Zelito Miranda
“Quando a gente entra no ônibus para pegar estrada a gente já se emociona. Antes de iniciar a viagem a gente faz aquela oração para agradecer a Deus por esse retorno, essa oportunidade de trabalhar, que é o que nós fazemos, levar alegria e esperança através da música. Tem gente que espera o ano inteiro por essa festa. Não só para curtir, mas também para trabalhar. A gente também, apesar de trabalhar o ano inteiro, o São João é o nosso momento”
Berguinho, Seu Maxixe
“Estar podendo viver novamente o São João é algo que não dá para explicar, parece um sonho. É um momento muito importante, principalmente depois de um período tão difícil que passamos e agora eu tenho um outro olhar, não é só celebrar o São João, é celebrar a vida.”
Cris Lima
"A expectativa nunca foi tão grande, depois de 2 anos sem São João. Todo ano sempre é uma expectativa grande para a festa, para o forrozeiro, para quem trabalha com o forró, esse ano mais ainda por causa da pandemia. Para mim sempre foi muito importante o São João. Eu me tornei forrozeiro por causa da festa, foi em uma noite de São João que eu decidi me dedicar ao ritmo".
Léo Macedo, Estakazero
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Bianca Andrade
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