O iBahia antecipa estreia de 'O Sumiço da Santa'

O espetáculo O Sumiço da Santa é inspirado no livro de mesmo nome, um dos últimos escrito por Jorge Amado

Em meio às comemorações do centenário de Jorge Amado, tem novidade no teatro baiano em homenagem ao escritor. Se engana quem pensou nos meninos de rua de Capitães da Areia, ou em Gabriela e muito menos Dona Flor. Pela primeira vez adaptada para os palcos, 'O Sumiço da Santa' - inspirada no romance homônimo, publicado em 1988 - apresenta aos soteropolitanos personagens mais urbanos e contemporâneos como Manela e Dona Adalgisa, entre outros. O espetáculo, com direção de Fernando Guerreiro, estreia no próximo sábado (15), no Teatro ACBEU, às 20h. Veja também: iBahia invadiu os ensaios de 'Drácula' e conversou com o elenco do espetáculo Santa Bárbara sumiu O texto é assinado por Cláudio Simões e mostra uma Salvador da década de 70, em crescimento urbano, sob o pano de fundo da ditadura militar. "A obra de Jorge Amado tem uma série de desdobramentos e de facetas. Jorge é muito marcado pelos personagens brejeiros, os femininos, a coisa do campo e este espetáculo tem um lado mais urbano", conta Guerreiro. Na história, a imagem de Santa Bárbara é transportada de Santo Amaro para Salvador e as confusões começam quando a santa desaparece ao chegar na capital baiana.

A atriz Ana Cecília Costa

Entre os personagens estão Dom Maximiliano (Marcelo Praddo), o padre comunista Abelardo (Ângelo Flávio) e Dona Adalgisa (Andrea Elia) que não aceita suas próprias origens africanas. A jovem Manela, é interpretada por Ana Cecília Costa, conhecida por ter atuado na novela Cordel Encantado e no filme Capitães da Areia. Ana volta aos palcos baianos depois de 20 anos. "É uma alegria poder estar participando disso e viver o cotidiano de trabalho na cidade de Salvador. Também já tem um tempo que não faço teatro, então está sendo uma reciclagem importante para mim", conta a atriz.

O espetáculo passeia pelo humor e o drama, tratando também de questões ligada a intolerância às religiões de matrizes africanas e o racismo. Fernando Guerreiro, que já dirigiu espetáculos de sucesso como 'Os Cafajestes', 'Vixe Maria, Deus e O Diabo na Bahia' e 'Pólvora e Poesia', nunca havia trabalhado com essas temáticas. "Talvez o principal motivo de eu ter escolhido esta obra é que ela mexe com um assunto muito atual: a intolerância com as raízes de matrizes africana. Jorge sempre foi defensor dessas questões, e acho que nesse momento é preciso que a gente levante essa bandeira", conta.

Duplas dinâmicas Uma das curiosidades do processo de criação da montagem foi o desenvolvimento paralelo entre o dramaturgo e o diretor. "Cláudio foi escrevendo esse texto, à proporção que eu ia montando. Então foi uma troca muito maluca, né? Parecia que eu tava gravando uma minissérie. A gente teve uma certa dificuldade de achar o tom e a forma. Ele precisou fazer um trabalho paralelo", revela Guerreiro.

Por falar em parceria, o maestro Letieres Leite, que assina a direção musical, fez questão de ressaltar o trabalho da musicóloga Ligiana Costa, responsável pela preparação vocal do elenco, e que acabou ajudando nas composições e arranjos. Essa é a primeira vez que Letieres trabalha com um espetáculo no Brasil. Na Europa, já assinou a direção de Auto da Compadecida, entre outros espetáculos.

"Aqui a gente trabalha com a criação espontânea e na Europa tem um planejamento mais rígido. Neste ensaio de hoje, por exemplo, é permitido mudar e dar novas ideias. Ao mesmo tempo tive muita liberdade na criação da trilha original. Este é um tema que me interessa: Jorge Amado e a música do candomblé", conta Leitieres.

A dobradinha também fica por conta das produtoras que encabeçaram o projeto: Janela do Mundo e Multi Planejamento Cultural, com patrocínio da Chesf e Embasa. A produção também é responsável pelas chamadas 'ações de formação'. A ideia é estimular o gosto pela literatura e pelo teatro aos estudantes de escolas públicas e particulares.

"Nós estamos com um concurso cultural no site oficial do projeto e vamos abrir sessões especiais do espetáculo com debates para alunos de algumas instituições", explica Fernanda Bezerra, coordenadora de projetos da Multi Planejamento Cultural. Veja o vídeo gravado pelo iBahia em um dos ensaios finais, com o elenco de O Sumiço da Santa convidando o público para assistir ao espetáculo. [youtube tQiN1hlI6Fg] O Sumiço da Santa Quando - a partir de 15 de setembro, de sexta a domingo, 20h Onde - Teatro ACBEU (Av. Sete de Setembro, 1883, Corredor da Vitória. Tel: 3444-4411) Quanto - R$30 (inteira) e R$15 (meia)