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Prêmio Braskem de Teatro premia hoje melhores espetáculos baianos

Foram avaliadas 59 peças teatrais baianas consideradas profissionais e inéditas

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13/04/2016 às 13:46 • Atualizada em 29/08/2022 às 4:57 - há XX semanas
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Um espetáculo que começa nas ruas do Centro Histórico e continua em um casarão do século VXII para contar a saga dos Garcia D'Ávila, família que concentrou uma das maiores propriedades de terra do Brasil. Outro que toma o Teatro Vila Velha para falar da morte dos negros nas periferias de Salvador - e do mundo. Ainda no Vila, dois soldados inimigos no meio de uma pausa bélica durante uma suposta Terceira Guerra Mundial, causada pela disputa das águas no planeta. Uma montagem que conta a saga de dois comediantes tão antigos quanto o próprio mundo, que questionam o lugar da arte diante de uma sociedade cada vez menos poética e sensível. Por último, uma grande fantasia autobiográfica do polêmico Marquês de Sade, preso em um manicômio por escrever sobre homossexualidade, estupro e loucura.
Em comum entre estes cinco exemplos, o fato de todos estarem concorrendo à categoria de melhor Espetáculo Adulto do 23º Prêmio Braskem de Teatro, cuja cerimônia, restrita a convidados, acontece na noite desta quarta-feira (13), a partir das 20h, na Sala Principal do Teatro Castro Alves.
Mas há muito mais similaridades entre O Castelo da Torre, Erê, Campo de Batalha, Bululu e Sade e os outros quinze espetáculos (com seus respectivos atores, diretores, figurinistas, cenógrafos) indicados pela comissão julgadora ao prêmio deste ano: todos eles reverberam questões caras ao mundo moderno, mesmo que tenham ocorrido há séculos.
Cena do espetáculo O Castelo da Torre, apresentado no Solar São Dâmaso, no Pelourinho; montagem do grupo Vilavox conta saga dos Garcia D'Ávilla (Foto: Divulgação/ BAPRESS)
Foi se valendo disso que o diretor e roteirista Elísio Lopes Jr., que pela terceira vez dirige a premiação, decidiu fazer da noite de hoje um espetáculo-manifesto pela liberdade do artista e por todas as causas que têm afetado o teatro e a sociedade. "Será um espetáculo honesto, no sentido de que irá discutir o que está nos afetando enquanto artistas e no que hoje está influenciando o nosso processo criativo", diz. A ideia, explica, é levar ao palco uma banda de rock que, insatisfeita com tudo o que tem acontecido, fará seu último concerto.
O fictício grupo será composto pelos atores Osvaldo Mil, Érico Brás e Pedro Pondé, que irão cantar, interpretar e dançar entre o anúncio dos vencedores de cada categoria. Os looks utilizados por eles e assinados por Luciano Ferrari, o Lord Lu, relembrarão os performáticos grupos Secos e Molhados e Dzi Croquetes.
“Minha relação com o prêmio é muito afetiva, é um espetáculo que eu digo que mais me dá trabalho, de tudo que eu faço. Porque eu vou falar para um público que eu conheço, os meus colegas, porque eu sou originalmente de teatro. Então eu quero fazer o melhor, porque eu sei que eles já viram de tudo", revela Elísio.
Prêmios e homenagens
Segundo o diretor musical Jarbas Bittencourt, no repertório da cerimônia estarão canções de Legião Urbana, Gonzaguinha, Raul Seixas, Gabriel, o Pensador, Gilberto Gil, Caetano Veloso e Beatles. "O rock é maior que ele mesmo porque tem essa coisa da atitude, da vontade de dizer, da explosão, que acredito ter muito a ver com uma vontade do teatro. O espetáculo terá a ver com tudo isso que acontece no mundo e que tem tomado conta das redes sociais", revela. Por isso, a narrativa musical não deixará de fora temas como homofobia, racismo, violência, entorpecimento e intolerância religiosa.
Esses grandes temas também definiram os homenageados dessa edição, cinco personalidades que lutam pelos Direitos Humanos na Bahia: Maria Rita Lopes Pontes, superintendente das Obras Sociais de Irmã Dulce; o médico Antonio Nery Filho, criador do Centro de Estudos e Terapia de Abuso de Drogas; o antropólogo Luiz Mott, fundador do Grupo Gay da Bahia; Mãe Stella de Oxóssi, ialorixá do terreiro Ilê Axé Opô Afonjá e Vavá Botelho, diretor do Balé Folclórico da Bahia. O homenageado artístico será o diretor e cenógrafo Martim Gonçalves."A pergunta que a gente se faz é se está tudo caótico ou se temos caminhos, alternativas, através de pessoas como essas", questiona Elísio.
Sade (à esq.) e Bululu (à dir.), dois espetáculos ambientados em séculos passados que tratam sobre questões universais; o primeiro, fala sobre temas como loucura e sexualidade; o segundo, sobre o próprio fazer teatral e a importância da arte em uma sociedade cada vez menos sensível (Foto: Divulgação/ BAPRESS)
A premiação destaca anualmente as melhores produções do teatro baiano em oito categorias: Espetáculo Adulto, Espetáculo Infanto-Juvenil, Direção, Ator, Atriz, Texto, Revelação e Categoria Especial. No total, foram avaliadas 59 peças teatrais baianas consideradas profissionais e inéditas, que estiveram em cartaz no período de 1º de abril a 23 de dezembro de 2015, em Salvador; 20 delas concorrem em pelo menos uma categoria do prêmio.
Além do troféu, os vencedores das categorias Espetáculo Adulto e Espetáculo Infantojuvenil receberão um prêmio no valor de R$ 30 mil cada, enquanto os demais vencedores serão contemplados com um prêmio de R$ 5 mil cada.
A largada para a edição do ano que vem já foi dada. Desde o dia 1º de abril, o júri do prêmio começou a percorrer os teatros de Salvador para avaliar os espetáculos que deverão concorrer ao Prêmio Braskem de Teatro 2016.
E o grande mérito dos artistas de teatro parece mesmo ser o de se valer da crise para firmar suas convicções através da arte e da estética. "Nossa crise não é maior, melhor, menor, que nenhuma dessas referências que nos valemos nos nossos espetáculos. Por isso, ao final da cerimônia, convidaremos o público para cantar e celebrar junto na frente do palco", adianta Elísio. É esperar para ver. E aplaudir!
Correio24horas

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