Celebração centenária de Santo Amaro da Purificação, o Bembé do Mercado foi reconhecido nesta quinta-feira (13) como Patrimônio Cultural do Brasil. O registro foi confirmado por unanimidade após reunião do Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural em Brasília, na sede do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).
Realizado há 130 anos na cidade do Recôncavo Baiano no dia 13 de maio (a primeira celebração aconteceu em 1889, um ano após a publicação da Lei Áurea), o Bembé tem origem nas religiões de matriz africana e se divide entre as cerimônias para os ancestrais, como o Padê de Exu, o Orô de Iemanja e Oxum; o "Xirê", palavra yorubá que remete à roda ou dança para reverenciar os Orixás; e a entrega dos Presentes destinados a Iemanjá e a Oxum.
Desde 2013, a Associação Beneficente e Cultural Ilê Axé Ojú Onirè submeteu ao Iphan o pedido para registrar a celebração como patrimônio imaterial. Com o reconhecimento, o Estado passa a ser responsável pela salvaguarda da festa e pela preservação de sua tradição.
"Este processo aponta ações de curto, médio e longo prazo. Uma das propostas iniciais é a construção de uma Casa da Memória, um local de registro, acervo e centro de pesquisa", adianta Hermano Queiroz, diretor do Departamento de Patrimônio Imaterial do Iphan. "Também pretendemos trabalhar esta importante manifestação cultural do ponto de vista educacional."
Presidente da Associação Ilê Axé Ojú Onirè, o babalorixá Jose Raimundo Lima Chaves, conhecido como Pai Pote, celebrou o reconhecimento nacional ao Bembé do Mercado, que desde 2012 já era considerado Patrimônio Imaterial da Bahia. Para ele, o registro é importante em um momento de aumento de episódios de intolerância religiosa no país.
"Isso fortaleceu não só o Bembé mas todos os terreiros do Brasil", comemorou Pai Pote. "Sei que o momento é de luta, mas eu sou de Ogum, que sempre vence suas batalhas."
Além das ações concretas, a expectativa é que o título amplie a divulgação do Bembé do Mercado para além da Bahia. Fora do estado, a celebração é lembrada pelo citação na letra de "13 de maio", composta por Caetano Veloso, filho ilustre de Santo Amaro.
"É curioso como o Bembé tem menos projeção de que outras festas locais, mesmo sendo centenária. Espero que o título ajude neste reconhecimento", torce Jorge Velloso, sobrinho do cantor e autor do livro "Candomblé de rua — O Bembé de Santo Amaro". "O Bembé representa uma resistência histórica, por isso foi perseguido e proibido de ser realizado em alguns anos. É incrível pensar que já se dançava o Xirê nas ruas de Santo Amaro um ano após a Lei Áurea. Talvez hoje isso fosse mal recebido se acontecesse nas ruas do Rio e de São Paulo."
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Redação iBahia
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