O relatório elaborado pelo Clube São Conrado de Voo Livre (CSVL) e divulgado nesta terça-feira (27) aponta que houve negligência do instrutor de voo Alan Figueiredo no acidente de parapente, que matou a nutricionista Priscila Boliveira, de 24 anos. Priscila era irmã do ator Fabrício Boliveira, que atuou no filme Tropa de Elite 2. Ela sofreu uma queda de aproximadamente 20 metros após saltar da rampa da Pedra Bonita, em São Conrado, na Zona Sul do Rio, no último domingo (25). Nesta terça-feira (27) com o advogado Marco Aurélio Gomes Araújo, responsável pela defesa de Alan Figueiredo, foi procurado, mas ele não foi encontrado para comentar o caso.
No documento assinado pelo presidente do clube, Carlos Trota, consta que o instrutor de voo não verificou os equipamentos e as travas de segurança. Segundo o relatório, Priscila decolou com as travas das pernas desconectadas. “A comissão técnica instaurada pelo Clube São Conrado de Voo Livre para avaliar as causas do acidente que vitimou a aluna Priscila Boliveira cumpre informar que, após analisar todas as evidências, fotos e vídeos apresentados, concluiu que houve negligência do instrutor Alan Figueiredo na verificação de equipamento e e travas de segurança de sua aluna. Através do vídeo pode ser verificado que o piloto não executou a checagem final da selete”, diz trecho do relatório. Selete é uma espécie de cadeira acolchoada, na qual o piloto senta durante o voo. O relatório será encaminhado à 15ª DP (Gávea), responsável pelas investigações do acidente, ainda nesta semana. EquipamentoNa noite de domingo (25), após Alan Figueiredo prestar depoimento na 15ª DP (Gávea), o advogado Marco Aurélio disse que o instrutor viu algo de errado no equipamento de segurança de Priscila segundos depois da decolagem. Ele contou que a dupla já havia caído antes de saltar e por isso houve duas decolagens. Segundo o advogado, o instrutor tem 12 anos de profissão. Durante o depoimento, segundo o delegado Fábio Barucke, da 15ª DP (Gávea), o instrutor contou, ainda, que tentou segurar Priscila com as pernas quando percebeu que ela estava caindo e que ela tinha se soltado da fivela de segurança. A vítima, de acordo com o depoimento do instrutor, caiu durante tentativa de aterrissagem. Instrutor é afastado de clubeDe acordo com Carlos Trota, após o relatório e as evidências, o Clube São Conrado de Voo Livre decidiu nesta terça-feira afastar por tempo indeterminado o instrutor Alan Figueiredo. O Clube mantém quatro fiscais na rampa da Pedra Bonita. Eles têm como função monitorar as condições climáticas, meteorológicas e os equipamentos utilizados nos voos. Segundo Trota, apesar da neblina, as condições climáticas eram favoráveis ao voo de parapente. Ele também disse que os equipamentos utilizados por Alan estavam em boas condições. No entanto, para o diretor técnico da Associação Brasileira de Parapente (ABP), Arthur Lewis, as condições do tempo não eram boas para o voo. “O piloto tinha que perceber que aquela condição meteorológica não era propícia, é o que a gente chama de ‘voar entubado’, ou seja, voar entre as nuvens. Não eram condições de voo duplo”, afirmou.
Instrutor não era homologado pela ABPArthur Lewis afirmou que o instrutor de voo que estava com Priscila não é homologado pela Associação Brasileira de Parapente, assim como o clube São Conrado Voo Livre não é filiado à entidade, apenas à Associação Brasileira de Voo Livre (ABVL). Ele disse que 70 dos 110 pilotos que usam a rampa da Pedra Bonita são de parapente, e que nenhum deles é homologado pela ABP. “Eu vi que nenhum desses 70 pilotos é homologado pela ABP. Isso não é uma obrigação, mas acredito que a baixa procura se deve ao fato da associação cobrar procedimentos técnicos e no caso desses pilotos, fazemos uma série de exigências básicas, de segurança, que esses profissionais não têm. A atividade acabou se tornando um lugar de busca de dinheiro”, disse. O diretor explicou ainda que, para realizar um voo duplo, é preciso de pelo menos cinco anos de prática no parapente. Depois, o piloto faz um curso durante um ano, voando sempre com outro profissional, nunca com passageiros. Após um teste prático, ele é homologado para voar com qualquer pessoa e em qualquer rampa do Brasil. Jovem será enterrada em SalvadorO enterro da nutricionista está marcado para quarta-feira (28), em Salvador (BA), onde ela morava. O instrutor de voo Alan Figueiredo que acompanhava a jovem vai ser indiciado por homicídio culposo. Ele deve ser ouvido novamente na próxima sexta-feira (30). Em 2010, depois de acidentes ocorridos no Rio, o Ministério Público Federal pediu que a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) fiscalizasse a atividade. Mas a Anac alega que, como parapente e asa delta não são certificados pela agência, ela não tem obrigação de fiscalizar. Travas soltasO delegado disse que a decisão pelo indiciamento do instrutor partiu da análise das imagens, que mostravam as travas de segurança soltas. “Pelas imagens, percebe-se que a trava de segurança estava aberta. Mostrei para um instrutor e pessoas experientes e eles perceberam isso. Ele vai responder por homicídio culposo por negligência. A culpa foi dele que não travou a trava de segurança”, explicou o delegado. Homicídio culposo é aquele em que não há intenção de matar.
Relatório divulgado por clube será entregue à polícia |
Diretor da ABP diz que Priscila saltou com as pernas soltas |
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