Foto: Divulgação
Mais um longa do universo Harry Potter chega aos cinemas na próxima quinta-feira (14), se fiando especialmente na base fervorosa de fãs que irão lotar as salas de exibição pelo simples fato de que faz parte da história dos bruxos que amamos. 'Animais Fantásticos: Os Segredos de Dumbledore' é um filme cujo roteiro é tão questionável quanto o seu antecessor, 'Animais Fantásticos: Os Crimes de Grindelwald'. No entanto, aqui já temos uma exaustão por parte do espectador que a cada filme passa a se contenta menos com o que o universo bruxo está oferecendo. E quem está falando aqui é uma crítica de cinema que tem uma tatuagem de Harry Potter no braço. Só para vocês entenderem o meu nível de fã.
Não há o que minuciar muito aqui sobre a sinopse, pois além de confusa, pode dar spoilers. Mas, já toco no ponto principal de problema do filme: ele é tão confuso quanto o anterior. O roteiro parece ter dificuldade de definir qual o seu foco principal, qual arco narrativo será levado em conta e até mesmo em definir o protagonista. Sim, o título carrega o nome de Dumbledore (Jude Law, Capitã Marvel), mas ele divide o protagonismo com Newt Scamander (Eddie Redmayne, Os 7 de Chicago). Essa enxurrada de informações em cima do espectador faz com que ele não se apegue a nenhuma causa que é apresentada, deixando o envolvimento com a trama apenas a cargo do cenário e universo onde a história está inserida. O que é até meio desrespeitoso com os fãs, para falar a verdade.
O romance entre Alvo e Grindelwald é algo muito mais martelado neste longa, mas sem justificar o vínculo para o espectador. Fala-se muito sobre o amor dos dois, mas sem mostrar nenhuma cena do passado que justifique. O que fica, então, são apenas palavras que não envolvem quem assiste, o que faz parecer que o envolvimento homossexual foi, de fato, apenas uma jogada de marketing de J.K Rowling para abarcar este público.
Para além disso, é decepcionante ver o que fizeram com Credence (Ezra Miller, Liga da Justiça). A grande promessa de que ele seria um vilão obscuro e temido, como surgiu ainda no primeiro filme, simplesmente é deixada de lado para mostrar um personagem apático, sem forças e sem representatividade. Ele não serve para quase nada na trama. Assim como ele, temos Teseus (Callum Turner, Emma), irmão de Newt, que também tem um arco narrativo tão inútil que poderia ser cortado do roteiro sem que dessem a menor falta.
O personagem que tem um destaque melhor nessa salada de frutas é Jacob Kowalski (Dan Fogler, A Discussão), cuja história é melhor desenvolvida e tem um carisma único. É uma delícia acompanhar seus momentos e dar risada com suas trapalhadas. Carisma que falta, por exemplo, ao tido protagonista Eddie Redmayne. Tenho minhas restrições porque, apesar de considerá-lo um bom ator, acho que seu maior traço de personalidade é ser estranho. E não acho que isso seja suficiente para sustentar esta demanda.
Mas me entendam. Não é que 'Animais Fantásticos: Os Segredos de Dumbledore' seja ruim. Tem lá seu entretenimento, bons momentos. As atuações são muito boas, o elenco é integrado, os efeitos especiais excelentes e a trilha sonora nos faz memorar Harry Potter, especialmente ao entrar novamente em Hogwarts. No entanto, nem tudo isso é capaz de nos fazer esquecer um roteiro ruim. Dado que o livro original no qual essa franquia é baseada é bem pequeno e sem grandes histórias, tudo vem sendo criado por J.K Rowling durante a produção. Isso me leva a crer que ela tem perdido completamente a mão na necessidade de "encher linguiça".
A medida que chegamos ao final do longa, aí é que os arcos narrativos pobres são revelados de fato. Várias ações que sustentam as quase 2h30 de filme são invalidadas com decisões aleatórias. A prisão do irmão de Newt é completamente sem sentido, assim como a acusação de que Jacob era assassino. Queenie vai e volta do fascismo com a mesma facilidade que andamos na rua. Até o pacto de sangue entre Grindelwald e Dumbledore, o roteiro encontra um jeito de ignorar.
O que me deixa triste com 'Animais Fantásticos: Os Segredos de Dumbledore' é ver um ótimo potencial perdido. São grandes atores com um universo pronto e que já possui uma legião fiel de fãs. Não precisava tanto esforço para entregar um material de qualidade e que agradasse a todos. No entanto, a opção de querer encher o roteiro de fios que nunca são conectados transformaram o filme em uma produção confusão, sem grande impacto e um tanto decepcionante.
Confira trailer completo do longa:
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Marcela Gelinski*
Editora-chefe do siteCoisa de Cinéfilo
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