'Uma repórter na essência da palavra' foi assim que colunista do iBahia, Wanda Chase descreveu a amiga e jornalista Glória Maria, que morreu aos 73 anos na quinta-feira (2). O sepultamento do ícone da televisão brasileira será no Rio de Janeiro.
Mas, a relação dela com a Bahia foi única. Em entrevista ao iBahia, Wanda falou sobre a importância que a amiga tinha para ela e como se conheceram em solo baiano.
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Em 2021, Wanda passou alguns dias na casa de Glória e contou detalhes de momentos íntimos com a apresentadora do Globo Repórter. A dupla não gostava de tirar fotos e, por isso, a imagem acima foi o último registro das amigas juntas.
"Ela era uma amiga muito especial. Glória tinha uma importância muito grande pra mim. Eu me sentia muito orgulhosa de vê-la na TV. Nos conhecemos na década de 90, no estouro da axé music. Quando ela veio aqui, em busca de reportagens especiais. Eu que a ajudei na produção das matérias que contava sobre a história da nossa música. Nossa amizade começou assim", disse Wanda.
"Nós estabelecemos uma relação de amizade muito boa, muito sincera, muito afetiva. As pessoas todas comentavam nas ruas, nos lugares sobre ela e sobre o trabalho dela. Ela se encontrou muito aqui, ela se apaixonou pela Bahia. E quando ela chegava aqui, era como se ela estivesse em outra casa dela. Em poucas horas, estava altamente adaptada, conversando com as pessoas, já que ela era muito de fácil acesso. Levei ela em vários blocos, comia na Alayde do Feijão, era uma estrela. E nós, negros, nos sentimos muito honrados com essa representatividade única, né? Que nos surgiu…Eu me espelhava muito nela", continuou ela.
Importância para o jornalismo
Glória Maria foi um ícone para o jornalismo. Ela foi a primeira jornalista preta a ser repórter na história da televisão brasileira, a primeira jornalista negra a entrar ao vivo direto da Avenida Brasil, no Rio de Janeiro.
E a primeira jornalista estrangeira e negra a entrevistar um presidente norte-americano. A entrevista foi com Jimmy Carter, em 1977, na cidade de Washington, nos Estados Unidos.
Sobre a carreira da amiga, a representatividade que todos os marcos projetam na história jornalística, e sobre a Glória, em essência, Wanda disse:
"Eu fiquei apaixonada com a forma dela escrever, a forma dela desenhar a reportagem, de deixar tudo muito bem costurado, valorizando personagens e tudo mais. E quando eu vi a Glória na televisão, aquilo ali era de uma energia…Eu tinha um fascínio por aquela mulher que usava cabelo black power, que era bonita segura, entendeu? Uma boa jornalista e negra, como eu e como tantos outros."
E ela continuou...
"Glória era uma vibradora. Uma repórter na essência da palavra. Jornalismo pra ela, era tudo, antes de ser mãe. E quando questionavam se ela era mãe adotiva ela dizia: 'na certidão das minhas filhas não tem mãe adotiva'", relembrou Chase.
Glória como mãe
Ainda em entrevista, Wanda citou fatos importantes da carreira de Glória e que ela presenciou. Entre eles, a negociação para a entrevista com Michael Jackson na Bahia e que se concretizou no Rio, a gravação de reportagens sobre os blocos afro no Fantástico, as visitas dela ao terreiro de Mãe Stella de Oxóssi e muito mais.
A lista inclui ainda a adoação de Maria e Laura, que para Wanda, é o momento mais marcante. Foi em um almoço no restaurante Yemanjá, localizado na orla da capital baiana, que ela soube da notícia. Glória amava os pratos do estabelecimento e convidou Wanda para falar sobre o assunto.
"Nós fomos almoçar e ela me contou que ia adotar uma criança, né? Eu disse logo: 'nunca quiseste ter filho, criança exige muito cuidado, muito tempo, tu vive viajando toda semana, nas revistas, nos eventos e tal e não iria de ter tempo para isso.' Aí ela me respondeu que não e que ela queria isso mesmo (ser mãe)"., revelou Wanda.
Depois do papo, não demorou muito tempo, e Glória efetivou a adoção das pequenas. Em outro momento, ao ir à casa de Glória, Wanda percebeu o quanto essa decisão foi acertada. Ela disse que nunca viu a amiga tão feliz e realizada.
"Eu não conhecia esse outro lado dela, eu acho que nem ela conhecia…A paixão, carinho com aquelas meninas, eu ficava surpresa…Meu Deus do céu, comprava roupa e tudo que ela via era a cara das meninas. Era uma festa, era uma satisfação. No Natal, ela fez uma festa lá, contratou um Papai Noel no condomínio essa coisa toda."
Ao final do bate papo, Wanda resumiu o tempo que teve ao lado da amiga e também sobre a parceria jornalistica.
"Vou sentir muita saudade…Ela era uma pessoa que sabia desfrutar de coisas boas da vida através do trabalho dela. Ela vivia para o trabalho. Ela vibrava com o trabalho, era negra até a médula. Mas, é isso. Foi bom, muito bom essa convivência."
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Mayra Lopes
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