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5ª Batalha Break - Evolução Hip Hop lota sala principal e ainda deixa fila de espera na porta do teatro |
Mais de 400 pessoas ocuparam ontem (8) o Teatro Vila Velha, no Campo Grande, para assistirem de perto a final da 5ª Batalha Break - Evolução Hip Hop, fazendo parte da programação do Festival Internacional VIVADANÇA – Ano 6, realizado pelo Núcleo Viladança. A Sala Principal do teatro, com 237 lugares disponíveis, ficou pequena para receber b.boys, b.girls e admiradores do breaking, que lotaram o lugar, confirmando a força da cultura Hip Hop, importada dos Estados Unidos, mas com identidade brasileira já sacramentada, ao longo de, aproximadamente, 30 anos presente no país.As estruturas do Teatro Vila Velha balançaram ao som dos DJs Bandido, Leandro e Jarrão. A cada
break beat - batida de fundo tocada pelo DJ para que os b.boys ou b.girls façam a sua dança no mesmo ritmo da música – a disputa entre os finalistas crescia, e o público vibrava a cada superação.
Arena da dançaO palco, delimitado por uma linha branca, tinha, de cada lado, uma dupla disposta a ganhar o primeiro, segundo e terceiro lugares e levar o prêmio de R$ 2 mil, R$ 1.500 e R$ 1 mil, respectivamente. Ao todo, 64 duplas se inscreveram nesta edição, passando pelas eliminatórias, realizadas desde a última quinta (5), e reduzidas até a campeã deste ano: os b.boys Junin e Kiko, de União dos Palmares, em Alagoas.
A dupla de b.boys Junin e Kiko, de União dos Palmares - Alagoas, foi a grande vencedora da Batalha de Break |
Muita beleza, pouco investimento |
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Habilidade e ritmo dos b.boys encantaram a plateia durante as batalhas de breaking |
Foi um verdadeiro espetáculo do movimento Hip Hop, representado ali não só pela Bahia, mas também por estados como Brasília, Sergipe, Paraíba, Pará e Piauí. Uma cultura, mais proeminente nas periferias, que se mostrou não só no palco, com a dança e a música, mas também na plateia, desfilando um estilo próprio de moda e comportamento. O tênis de cadarços coloridos, o boné, os óculos escuros, e a roupa larga davam um toque especial ao ambiente, mostrando a elegância e a originalidade que são só deles, de mais ninguém.
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DJ Branco: "O movimento sempre esteve à própria conta". |
Porém, segundo DJ Branco, idealizador e coordenador da Batalha Break – Evolução Hip Hop, mesmo com casa lotada ano após ano, desde 2008, quando o evento começou a fazer parte do VIVADANÇA, a cultura Hip Hop na Bahia ainda precisa de investimento. “O movimento sempre esteve a própria conta. Se a gente não fizer acontecer, ninguém faz. A produção cultural aqui na Bahia, não investe na cultura Hip Hop”, afirma DJ Branco, um dos maiores ativistas do movimento no Estado.Para o coordenador, a inserção no Festival VIVADANÇA foi um grande passo para o reconhecimento desta cultura no Estado, e é o único evento que respeita verdadeiramente a autonomia do movimento, deixando as principais decisões da produção sob a direção dos seus organizadores e, por isso, já é certo: ano que vem tem mais. “Nós já vamos nos reunir nos próximos dias para fecharmos a edição do ano que vem, já tenho várias ideias!”, sinaliza.
"O movimento (Hip Hop) sempre esteve a sua própria conta", diz Dj Branco |
Tudo pelo breakingFoi vendo os passos perfeitos do astro Michael Jackson na televisão há cinco anos, que Thiago Santos, 22, se interessou pelo breaking, e dele nunca mais largou. A adrenalina e a possibilidade de superar os limites do corpo humano são o grande estímulo para o b.boy, que veio de Sergipe para competir na Batalha. “O que a gente faz na arena, é coisa que o ser humano até dúvida, mas eu estou ali pra provar que é possível”, brinca.Já para a sua dupla, Wallisson Moura, 18, a dança é também um incentivo aos estudos. “Depois que entrei para o breaking nunca mais reprovei no colégio”, conta. Os dois, integrantes do grupo Reality Street Dance (RSD), ficaram entre os finalistas, mas só conseguiram o primeiro lugar na última edição do evento Conexão Barra, realizado em Aracaju. A vitória rendeu R$ 200, que serviram para pagar a passagem da dupla para Salvador.
'Depois que entrei para o breaking nunca mais reprovei no colégio', diz o b.boy sergipano Wallisson Moura |
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A dupla Thiago e Wallisson (SE) dançam breaking há cinco anos e mostraram sua arte nas sinaleiras de Aracaju para arrecadar fundos para a viagem a Salvador |
A solidariedade e o sentimento de equipe também foram passados pelo Hip Hop a Thiago e Wallisson. Mesmo com o dinheiro suficiente para a viagem, a dupla se dispôs a mostrar a sua arte nas sinaleiras de Aracaju, para assim, arrecadar um valor para a alimentação na capital baiana e poder contribuir com seus amigos, para que também pudessem viajar.Gilvan Brandão, 23, morador do Nordeste de Amaralina, em Salvador, é mais um b.boy que tem como estímulo maior desafiar o próprio corpo e provar, para si mesmo, que é capaz. Dançarino há quatro anos, foi vendo seu irmão nas rodas de breaking, que a vontade de ser mais um dessa expressão artística aflorou. Há quatro anos vem treinando semanalmente tanto no seu bairro, nas aulas oferecidas pelo projeto Viva Nordeste, quanto na Escola de Dança da Fundação Cultural do Estado (Funceb), no Pelourinho. E os planos para o futuro? Continuar testando o seu corpo e sentir adrenalina a cada Batalha.
Cultura Hip Hop, a grande vencedoraDepois de espetáculos seguidos de habilidade e criatividade, varando a tarde de domingo de Páscoa no Teatro Vila Velha, eis que é anunciada a dupla campeã alagoana Junim e Kiko. Entre gritos de alegria, abraços emocionados e troféus levantados, no final das contas, o que se estava comemorando era a celebração de uma cultura. Uma cultura de resistência, tal como a periferia, local de sua origem. A cultura Hip Hop.
Confira um trecho da final da 5ª Batalha Break - Evolução Hip Hop: