Vamos seguir na nossa trilha de análise de balanços nesse domingão. Hoje é dia de falarmos dele, “O Glorioso”, o Botafogo. O coração do nosso Marcelo Azevedo bate mais forte.
Alô, turma boa da Rádio Botafogo e o nosso grande amigo Davi Nunes. Fiquem ligados no fio que começa agora.
Antes de tudo, um reconhecimento: o relatório de auditoria, feita pela BDO, é um dos mais completos e abertos que vimos até hoje dos clubes. Informações de todos os tipos, um verdadeiro parque de diversões de quem gosta de transparência. É uma referência nos clubes brasileiros começar sempre com a grana que entra pela porta. Vamos basear nossa análise sempre no Consolidado. Este, engloba o Botafogo de Futebol e Regatas (clube) e a controlada Companhia Botafogo (empresa que concentra o arrendamento do Estádio Nilton Santos).
Crescimento de 17% nas receitas com futebol e de 25% com clube social. Número crescente também nas receitas com estádio (+27%).
Abaixo a abertura da receita do futebol. Notem que houve queda na grana da Tv e de patrocínios, mas foram compensadas pelo incremento na venda de direitos federativos de atletas, bilheteria e premiações. O bloco futebol acabou crescendo 16% em relação a 2018.Quer entender como se comportou o $$ da Tv ? Tudo aí abaixo. TV aberta (43%), PPV (29%) e Fechada (28%), sem nenhum valor antecipado em 2019. Notem a mudança, em relação a 2018, quando eles alocavam em 2 blocos (aberta e ppv) e em 2019, com as novas premissas de distribuição.
Abertura também das cotas de participações em torneios. Diferente de 2018, que caíram na 1a fase da Copa do Brasil e que foram até a 3a fase na Sul-americana, os avanços em 2019 contribuíram para dobrar o valor em participações. No Brasileirão, receberam R$ 11,5 mm pelo 15o lugar
Abertura também dos R$ 38 mm (líquidos) dos repasses de direitos federativos e econômicos dos atletas. Cerca de 70% concentrado nas transações de Igor Rabelo e Rodrigo Lindoso para Atlético Mineiro e Internacional, respectivamente.
Na grana de bilheteria, aumento de 60% em relação a 2018, concentrado no Brasileirão. Mas o dado estarrecedor é o que você verá no próximo comentário.
Em nenhuma competição disputada, o Botafogo conseguiu ter resultado com bilheteria. Lembre: faturamento é uma coisa, resultado é outra. O clube paga para jogar. Mais precisamente, R$ 3,5 mm em 2019. Esse é o resultado (negativo) da renda menos as despesas. Muito ruim.
Passadinha rápida nas contas do ativo circulante. O contas à receber subindo por conta das transações mencionadas anteriormente, mas tímido para para fazer frente ao enorme passivo circulante que você verá à seguir.
O clube tem de obrigações de curto prazo cerca de R$ 303 mm. Atenção: se você só tem R$ 32 mm de ativo circulante para fazer frente a uma passivo circulante de R$ 303 mm, a sua necessidade de cap. de giro é de R$ 270 mm. Está se financiando com credores por part. de atletas…
com fornecedores e tributos. No passivo de longo prazo, outra pancada de R$ 587 mm concentrados em tributos parcelados, acordos e empréstimos. Aumento também na provisão para contingência (aquele “farol” de problemas à frente). PL negativo de, incríveis, R$ 729 mm. Difícil!
Vamos falar dos empréstimos? O clube tem R$ 125 mm (R$ 51 mm de curto prazo e R$ 74 mm de longo prazo). A dívida não teve alteração em termos de valores. O curioso é que os grandes “banqueiros” do clube são pessoas físicas. Os irmãos Moreira Salles com quase R$ 50mm …
...somados a Montenegro e Giuliano Bertolucci correspondem a quase 60% das linhas de empréstimos colocadas p/ o clube. Eles são os grandes banqueiros. Os Irmão Salles compraram terreno para o CT e receberão em 30 anos com repasse de 18% da venda de cada jogador vindo da div de base.
No Profut, o clube possui R$ 309 mm parcelados nas condições do programa. Somente de juros, de 2018 p/ 2019, houve incremento de R$ 13,5 mm e só foram pagos R$ 925 mil durante todo o ano. O serviço da dívida cobra seu preço, felizmente a Selic vem reduzindo o que é positivo.
Chegando no DRE. O custo com depto de futebol diminui de 62% p/ 58% da receita bruta, mas as despesas operacionais do clube social e esportes olímpicos aumentaram de 29% p/ 34%. Anularam a captura feita pelo futebol. Juntando com desp financeiras de R$ 37 mm, o déficit …
...do exercício ficou em R$ 21 mm, somando mais um ano negativo nas já combalidas finanças do clube. Não há muito mais o que comentar. A BDO começa o relatório com um tópico chamado “Incerteza relevante relacionada a continuidade operacional". Não precisa tradução.
O clube passa pelo momento de maior desafio, ao mesmo tempo em que alguma solução está bem discutida (clube empresa). Não há reestruturação financeira sem “dinheiro novo”, como falam os profissionais de turnaround. Ou entra grana, ou vai ficando longe do seu tamanho na história.