A temporada de Balanços dos clubes iniciou e hoje vamos para mais uma análise.
Vamos com o tricolor paulista, o São Paulo Futebol Clube. Esse sempre foi um clube referência de gestão em um futebol brasileiro que tinha apenas "lampejos" de boas práticas.
Vamos lá!
Começando com o bloco das receitas. No todo, pequena decréscimo de R$ 6 mm(2019 x 2018), ficando em R$ 398 mm. Negociação de atletas reduziu em R$ 45 mm, mas passou a arrecadar mais com bilheteria. Receita de ST tímida para um clube do tamanho nessa torcida.
Note ainda que o estádio gera cerca de R$ 21 mm de receitas anuais com metade do vlr vindo de camarotes e cadeiras cativas. Outro ponto a ser destacado é que R$ 25 mm da receita deste ano vem através de uma recuperação de créditos tributários que serão compensados (Cofins).
Ponto de atenção: se considerarmos que cerca de R$ 55 mm das suas receitas vêm de "sociais e esportes amadores" + "estádio". É um cenário desafiador em tempos de pandemia e, certamente, não é um problema só dele.
Nas contas de balanço, no ctas à receber, as "Entidades Esportivas" se referem as negociações de Direitos de atletas. Rodrigo Caio, Militão, Pratto, entre outros. Lembrando que o River Plate tem apresentado problemas nos pagamentos ao São Paulo.
Curiosidade: o SPFC possuía, em 31/12/2019, participação nos direitos econômicos de 36 atletas. Destes, em 2020, o clube já negociou definitivamente David Neres com o Ajax por 7 mm de euros (à vista) e de Antony por 15,7 mm de euros em 2x dentro de 2020. Grana para reforçar caixa.
Vamos entrar no passivo. Crescimento expressivo do endividamento bancário de curto prazo (joga mais pressão no caixa) saindo de R$ 62mm para R$ 127 mm (dobro).
O endividamento bancário de longo prazo aumentou também em função da criação de um FIDC NP com garantia da cessão de direitos creditórios ...
...da grana da TV. O clube foi precursor nesse instrumento. Basicamente o fundo é criado para captar investidores (inicialmente com aplicação mínima de R$ 200 mil) para financiar antecipação de dinheiro de Tv. O curioso é que o fundo nasceu com previsão de captação de R$ 38 mm e ...
até 31/12/19, tinha captado 90%. Em uma cidade como SP e um clube como o SPFC, não conseguir 100% da colocação deixa claro 2 coisas:
1 - o produto futebol ainda é visto com muita desconfiança pelo mercado financeiro.
2 - os investidores tb não confiam 100% na gestão.
O clube também cresceu a dívida com agentes. Na pauta, André Cury, Carlos Leite e Vinícius Pinotti dominam a cena dos credores. Dívida concentrado no curto prazo.
Bora abrir agora a conta "Ent. esportivas" no passivo.
Note que esse número cresceu de R$ 59 mm para R$ 97 mm, sendo que destes valores, a obrigação dos R$ 90 mm é para os próximos 12 meses. Haja coração, amigo! Certamente, o clube deverá procurar um alongamento com o Porto...
Claro que tem que "combinar com os russos", mas depois da pandemia, o dever de casa de sentar para renegociar dívidas passa a ser dever de casa.
Nas Provisões para contingências (vulgo, problema no binóculo), o clube fechou acordo com a CET (órgão municipal de tráfego) referente aos serviços prestados durante os eventos (shows, na sua grande maioria). Parcelamento de R$ 25,7 mm em 180 meses.
Além disso, cerca de 18 acordos foram fechados c/ passivo trabalhista de atletas. Alguns processo são de 2006 e 2008. O valor? Cerca de R$ 37 mm e uma parte disso com parcelamento maior do que 30 meses. Outra: o clube está encerrando um litígio de 2004 referente a Ricardinho...
E aí chegando ao DRE, vem o seguinte:
Rec op. brutas - R$ 398 mm
(-) Desp oper. total - R$ 554 mm (*)
(*) Fut profissional e base - R$ 423mm
(*) Sociais e esp. amadores - R$ 43 mm
(*) Estádio - R$ 21 mm
(*) Administrativas - R$ 33 mm
(*) Encargos financeiros - R$ 33 mm
Chegamos na pancada de R$ 156 mm de déficit no ano de 2019. Esse número foi influenciado fortemente pelos R$ 81 mm em contingências já explicadas anteriormente. Era um problema que um dia chegaria e precisaria ser apropriado.
Ainda assim, sem esse número, o déficit seria enorme.
Frisa também que esse déficit vem carregado pelos processos judiciais de casos entre 2006 e 2015.
Que fica de lição?
Seu clube pode ter a melhor - ou pior - gestão. Sempre há a possibilidade de melhorar ou piorar.
Não há zona de conforto quando as gestões ainda estão em dúvidas. Fique de olho aberto, principalmente se você estiver na "crista da onda", pois a roda é gigante.
O clube voltará a achar seu caminho. Existem algumas empresas que são chamadas "Too big to fail" (Grandes demais para quebrar). O SPFC é um deles. Que ele ache rapidamente a reversão de rota para, quem sabe um dia, voltar a ser "Dentre os grandes, és o primeiro".
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Redação iBahia
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