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'Respeitem a história que vivi para chegar aqui', rebate Mariene de Castro sobre ausência no carnaval de Salvador

Prestes a completar 25 anos de carreira, cantora desabafou e criticou as justificativas dadas pelo secretário de Cultura depois do manifesto que fez nas redes

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Alan Oliveira

25/02/2023 às 8:00 • Atualizada em 25/02/2023 às 8:39 - há XX semanas
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					'Respeitem a história que vivi para chegar aqui', rebate Mariene de Castro sobre ausência no carnaval de Salvador
Foto: Reprodução/Instagram

				
					'Respeitem a história que vivi para chegar aqui', rebate Mariene de Castro sobre ausência no carnaval de Salvador

Passados mais de 10 dias desde o desabafo que gerou grande repercussão nas redes sociais e na imprensa, a cantora Mariene de Castro segue incomodada e chateada com a ausência dela no carnaval de Salvador deste ano. Em entrevista ao Preta Bahia desta semana, a artista falou sobre o esquecimento da organização da festa e criticou as justificativas dadas pelo secretário de Cultura da capital baiana, Pedro Tourinho, depois do manifesto que fez.

A situação veio à tona no dia 14 de fevereiro. Mariene fez um longo texto falando sobre a falta de espaço no estado, mesmo sendo uma grande representante da música baiana, sobretudo do samba. Já a declaração do secretário rebatendo o assunto só aconteceu na última quinta-feira (23). Também nas redes sociais, o produtor cultural disse que a cantora não entrou na programação por não ter apresentado nenhuma proposta para o município.

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Para a reportagem, Mariene problematizou a declaração e questionou se todos artistas precisaram demonstrar interesse oficial para integrarem as grades de atrações da folia na capital baiana. A cantora ainda aproveitou para pedir respeito pela história que acumulou ao longo dos seus quase 25 anos de carreira.

"Eu acho que muito mais do que ele está querendo justificar uma coisa, deviam estar dizendo: 'Olha, desculpa aí, a gente não convidou você. A gente entende que tem muitos artistas, são muitas estrelas para participar do carnaval'. Acho que era muito mais bonito fazer isso do que tentar justificar. Será que isso aconteceu com todos? Será que a gente vai realmente usar isso como uma justificativa por eu não estar presente?", rebateu Mariene.


				
					'Respeitem a história que vivi para chegar aqui', rebate Mariene de Castro sobre ausência no carnaval de Salvador
Foto: Reprodução/Instagram

"Quem não sabe que eu amo o carnaval de Salvador? Quem não sabe que a Bahia está toda em mim, que eu sou uma representante da cultura popular, que eu sou uma representante do samba na Bahia para todo o Brasil e para o mundo? É importante que respeitem a história que eu vivi para chegar aqui", completou.

No desabafo em torno da situação, a cantora fez um apanhado das últimas edições dos carnavais de Salvador e contou que, em todas as vezes que participou da festa, atuou como uma participação na apresentação de alguma outra atração. Entre eles, amigos como Margareth Menezes, Cortejo Afro e Carlinhos Brown. O manifesto deste ano seria um acumulado de algo que a incomodava há algum tempo.

"É diferente de você ser contratado e ser pago para isso, ter um cachê, como a gente vê acontecendo. Mas parece que é muito normal tratar uma cantora de samba não participar do carnaval".

Mas a ideia de partir para as redes sociais para relatar o problema surgiu depois que Mariene foi parada nas ruas e também questionada na própria internet sobre a ausência do nome dela na programação. "Todo mundo perguntava: 'Poxa, Mari, mas porque você não vai fazer o carnaval? Por que você não aceita?'. Muita gente me perguntando porque não estava na programação. Aí eu falei: Gente, eu não estou no carnaval não é porque eu não quero. É porque não fui convidada".


				
					'Respeitem a história que vivi para chegar aqui', rebate Mariene de Castro sobre ausência no carnaval de Salvador

Contudo, a artista confessou que não esperava que a situação tomasse as proporções que tomou. A cantora também ressaltou que essa não é uma dificuldade enfrentada apenas por ela, mas também e principalmente pelos blocos afro. Entre os problemas apontados por Mariene, a insuficiência de recursos financeiros e os horários de pouca visibilidade nas programações foram destacados.

"Eu acho que aquela proporção que isso tomou é porque aquilo não está só na minha boca, na minha garganta, no meu coração, no meu sentimento. Está no de muitos que também se sentem nesse lugar. E eu não vou nem entrar no mérito de quem foi, de quem não foi, de quanto paga, quem tem privilégios, quem não tem. Eu acho que não dá para justificar aquilo que não existe justificativa".

"Isso foi uma cultura de muito tempo, dos blocos saírem com o dia nascendo, com as televisões desligadas. Acho que isso precisa ser revisitado, revisto, refletido e colocado de uma maneira com muita consciência", completou.

Durante a conversa, a cantora lembrou ainda que foi tratada como artista emergente por pelo menos 15 anos, mesmo depois de toda a trajetória de reconhecimento nacional e internacional que construiu. E contou que, atualmente, diante de obstáculos como os do carnaval, acaba sentindo que isso ainda não mudou.


				
					'Respeitem a história que vivi para chegar aqui', rebate Mariene de Castro sobre ausência no carnaval de Salvador
Foto: Reprodução/Instagram

"Esse lugar que parece que a gente é um artista que a gente está sempre começando, e hoje eu não tenho uma impressão diferente disso. Eu tenho 25 anos de carreira e parece que eu estou começando".

Como exemplo, Mariene revisitou o início da carreira, quando passou um tempo na França e teve a aprovação da crítica internacional, mas não encontrou o mesmo retorno quando voltou para o Brasil. "Quando eu fui para a França pela primeira vez, eu acho que ali eu me descobri interprete. Eu vi que eu era cantora. A crítica falando de mim. Ali minha ficha caiu. Parecia que eu estava vivendo um conto de fadas. E eu brinco que quando eu volto para o Brasil a carruagem da Cinderela vira uma abóbora".

A cantora também se classificou como independente, já que não tem patrocínio, e explicou que, por causa disso, acaba sendo mais complicado apresentar os shows para o público. Mariene cita que em determinados locais, é preciso pagar desde a pauta até impressão dos ingressos com a bilheteria que arrecada. Mas ressalta também que prefere a liberdade artística que tem dessa forma.

"Eu sou artista independente desde que me entendo por gente. Eu fui por um tempo uma artista que passei por uma gravadora multinacional. Eu fiquei na Universal Music por sete anos, foi uma ótima experiência. Eu vi a diferença que existe em um artista ter uma estrutura dessa e não ter. E, por escolha, hoje eu prefiro manter o meu caminho independente, porque eu sou uma artista que preza pela minha liberdade".

Convites


				
					'Respeitem a história que vivi para chegar aqui', rebate Mariene de Castro sobre ausência no carnaval de Salvador
Foto: Reprodução/Instagram

Após o desabafo de Mariene, dois importantes convites surgiram para a cantora durante o período do carnaval. Um deles partiu de Carlinhos Brown, que acabou chamando a artista para desfilar com ele em Salvador. No entanto, a logística não deu certo e a baiana acabou mantendo apenas a outra proposta: desfilar com a Mangueira no Rio de Janeiro.

Neste ano, a escola de samba fez uma grande homenagem à ancestralidade africana que ajudou a construir o carnaval na Bahia, contando a história cronologicamente, desde os cortejos afro do século 19 até os dias de hoje. Para o Preta Bahia, Mariene contou que ficou honrada e emocionada por participar do desfile.

"Não houve presente mais bonito que eu pudesse receber, porque é o meu lugar. Eu sou representante da cultura popular. É isso que eu canto desde que eu me entendo como cantora. Quando eu cheguei e que eu vi, eu fiquei muito emocionada, muito agradecida e muito feliz, por ser associada às minhas raízes. É muito bom você ver a história da sua gente ser contada de uma forma tão bela como aquela", lembra Mariene.

Projetos


				
					'Respeitem a história que vivi para chegar aqui', rebate Mariene de Castro sobre ausência no carnaval de Salvador
Foto: Reprodução/Instagram

Nascida e criada em Salvador, a cantora deu os primeiros passos com a música ainda em casa, com a família, mas só começou a cantar após a indicação de um professor, no início da adolescência. Na época, iria entrar em um curso de música, mas acabou fazendo canto, e a voz grave chamou atenção e começou a render convites.

"Eu sempre fui apaixonada por música, por dança, por teatro, mas me descobrir cantora levou um tempo, porque quando eu comecei a fazer aula eu comecei a gostar. Eu já cantava e nem me dava conta que cantava, de tão natural que era. Eu venho de uma família que minha avó tocava, meu tio tocava. Uma família bem musical, e era muito comum ter música em casa. Estava sempre ouvindo, sempre tocando".

No entanto, somente aos 15 anos Mariene passou a atuar profissionalmente, quando, em junho de 1998, fez a turnê "Iluminada" na França. Em 2023, a artista chega aos 25 anos de carreira. E o marco será lembrado entre os projetos previstos para este ano.

Além das comemorações, estão a estreia de um show no mês de novembro em São Paulo, a continuação da turnê Povo de Santo e um show que está montando com o também cantor baiano Roberto Mendes. "É um show lindo, que fala também sobre esse artista maravilhoso que é pouco valorizado e pouco reconhecido na sua terra".


				
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Foto: Reprodução/Instagram

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